Da série: lembranças de infância

Na minha rua tinha uma Maria, com o juízo dela houve algum problema, dizem que esse apareceu quando desapareceu seu homem, o homem de Maria fugiu com uma qualquer. Maria então passou a ser Maria Louca, circulava em surto pelas ruas e os meninos da rua XV a seguiam numa distância longe o bastante para escapar de um ataque de Maria Louca mas perto o suficiente para que seus gritos de louuuuuuuuca fossem ouvidos. Quando ouvia os brandos de provocação Maria Louca se voltava esbravejando e praguejando: corríamos às gargalhadas. Na rua Maria provocava medo e escárnio, mas tinha acesso livre a nossas casas quando ia lamentar seu sofrer com nossas mães, que lhes ofereciam café e bolo e ouviam de bom grado os desabafos de Maria, nossas mães acolhiam Maria, nós perseguíamos aquela que na rua virava a Louca, em casa era simplesmente Maria que nós recebíamos felizes. A rua transformava a nós e a ela. Salve as Marias, as Loucas e humilhadas e as sofridas e acolhidas.