sexta-feira, dezembro 30, 2005

infeliz ano novo

Apaga o cigarro e sente vontade de acender outro, pensa que é melhor não, desiste rápido. Pega o maço, bate duas vezes contra os dois dedos, o indicador e o do meio, puxa um dos cigarros de filtro branco, pega o isqueiro preto, protege a chama com a mão esquerda, acende e fuma com certa tranqüilidade em tragos calmos, descansando o cigarro de vez em vez no cinzeiro de porcelana branco e, como sempre, se diverte com a fumaça que dançando, dessa vez ao som de Mazzy Star.
Pela janela do quarto observa a vida no mundo externo, o dia muito claro e quente com uma brisa constante. Mais um ano que vai passando pela janela de seu quarto de parede azul, só mais um dia e 2005 jaz. Mensagens desejando paz e harmonia circulam por todos os lados e bocas e ele pensa que sua barriga ta crescendo mais do que deveria, não é bem uma preocupação é mais uma de suas observações. Sempre se percebe só nessas épocas festivas, não gosta muito de abraçar as pessoas e desejar: feliz ano novo. Não compra roupa nova e não usa branco, faz o que sempre faz normalmente, bebe, só que mais chato porque sempre fica longe dos amigos e sempre tem uns bêbados chatos pelas ruas, muita gente e muita bagunça, muito barulho e músicas ruins, o lado bom é que encontra a família, pena que isso não é constante. Fora isso se sente deslocado, parece que gosta de ser do contra, enquanto o mundo festeja ele fica entediado, ou é egoísta demais, acho que gosta mesmo é de quando todos dormem só para ele se sentir especial e dizer: enquanto a vida adormece por todos os cantos meu pulso acelera entre as coisas noturnas. Mas no fim de ano as coisas noturnas são iluminadas pelos fogos e pulsos pulsam por toda parte. Saco.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

coisas de jovem

Para a pia já amontoada de louças sujas e engorduradas mando mais uma xícara suja com restos de café frio, para o cinzeiro já cheio mando mais uma bituca do último cigarro do maço. A noite vai chegando ao fim, o alvoroço dos pássaros vai aumentando e eu não consigo parar de dançar sozinho no meu quarto.
Mas o dia chegou e as notícias já estão nas bancas, a água ferve e o aroma do café logo se espalha pelas casas. Desliga esse radio e vai dormir que a vida começou a pulsar nesse lado do mundo, se esconda meu caro ou entre no jogo.
Pois então vamos lá, nada de se esconder nem de entrar no jogo, vou entrar na contra mão e acelerar, vou me esborrachar eu sei. E daí? Vou quebrar a cara num poste ou num caminhão, que seja, desde que o volume esteja alto e tocando um rock, pode ser violent femmes. Não quero dormir nunca mais, vou sair para beber pelas manhãs de domingo na frente das igrejas. Que coisa de jovem isso e eu não sou mais jovem e não tenho esse carão. O que eu faço? Ora, vou arranjar um emprego, é isso. Coisa de adulto sabe, trabalhar e criar filhos, talvez um cachorrinho bem bonitinho, vou ouvir tango e música clássica, coisa de intelectual, nada de rock isso é pra os jovens, o negócio é astor piazzola. Caia na real, você ficou ai dançando sozinho a noite toda, ta deprimido e cansado, ta velho, vai dormir e vê se para de fumar que a idade de câncer ta próxima.

carta à amada

Ta bom, te dou aquela foto que você me pediu e eu gosto tanto, já me recusei a dá-la para todas, elas sempre me pedem essa foto, mas pra ti eu dou meu bem. Assim como tenho me entregado de alma mais ainda que de corpo. Pois é, agente não precisa se preocupar tanto assim com as coisas do corpo, e como são lindas nossas trepadas, te dou minha foto e minha alma.
Retrato, imagem e semelhança, diz muito aquela imagem minha, fala sobre mim, da até pra ver meus pensamentos. Você enxerga? Preste atenção que da pra ver. Pensava em ti mesmo sem saber que seriamos assim tão amantes, como pode? Penso em você desde sempre, mesmo sem saber que era por ti que escrevia aqueles poemas na juventude, mal eu existia e já sentia saudades tuas e chorava de desespero, de medo de te perder, que medo que eu tenho meu bem de perder sua face perto da minha ao amanhecer.
Olha ai na foto, ta vendo certa tristeza no semblante, era porque ainda não havia te encontrado, era por você que me isolava das pessoas e me refugiava entre a fumaça do cigarro, veja o cigarro na minha boca me acompanhando nesse, e em outros momentos de introspecção. Lembra quando agente se encontrava naquelas festas e agente se olhava, lembra? Nossa lembra como eu bebia desesperadamente, era por pura angústia de te encontrar, não sabíamos né, que seríamos assim tão amantes, tão cúmplices.
Mesmo quando demos aqueles primeiros beijos, não percebemos que nossos traços são tão semelhantes, dizem que agente se parece, deve ser porque somos tão amantes que nos confundimos um no outro. Quero perder a noção de onde começa o seu corpo e termina o meu, assim como quando nos amamos e terminamos em risadas, quero rir muito ao seu lado minha querida e chorar também, chorar de saudades, enquanto ainda choramos a falta do outro ainda não nos perdemos meu bem, não perdemos, não vamos nos perder.
Veja minha letra como é tremida, difícil te escrever agora que sua partida é tão recente, meus pensamentos tão confusos como um turbilhão essas imagens que vão brotando parece uma tempestade minha querida, tem uma tempestade aqui dentro de mim, ta causando um estrago terrível, derrubando arvores que demoraram tanto pra se desenvolverem, suas raízes eram tão profundas. Vou me despedindo agora minha querida esperando a calmaria de tua presença.

Beijos apaixonados de seu
cabelo

bucólica vida de cidade

Era uma manhã calma e bonita, poucas nuvens enfeitavam o céu e o sono ia se despedindo com os goles no café e os tragos no cigarro. Um dia inteiro para nada fazer. Pensa que sua vida na cidade mais parece um bucólico viver no campo... seus discos, livros, blá-blá-blá... sentado na mesa brinca com os farelos do pão na toalha xadrez e fica observando a fumaça do cigarro brincando no ar.
Senta-se no sofá e fica olhando sua imagem refletida na tela da tv desligada, pensa num passeio qualquer que sirva de distração e ajude a passar o tempo, como tem sido longos os dias daquele verão, longos e quentes, pensa que não faria tão mal nadar no poluído lago ali ao lado da sua casa, afinal nunca ficou sabendo de alguém que morreu por ter se banhado ali, melhor deixa. Vai uma chuverada mesmo.
Sai do banho e caminha nu pela casa, deita na cama e fica olhando pro teto até que, hora e meia depois, a fome aperta e resolve sair pra caçar um almoço. É bom caçar na cidade, basta um cartão de crédito nem munição precisa, pode pescar também e nem precisa de vara ou arpão, apenas de um talão de cheque e nem fundo precisa ter.
Veste-se cuidadosamente para parecer casual e pega o ônibus de não sei quantos cavalos de potencia, diz bom dia as pessoas mas ninguém o responde, desce no centro e percebe que é fim de ano, só agora se da conta que se aproxima o natal, na frente da loja um papai noel de roupa vermelha, manga e calça compridas e toquinha derrete ao sol de quarenta graus dos trópicos, o frenesi das pessoas no entra e sai das lojas com vitrines decoradas de vermelho, verde e neve, crianças chorando, homens e mulheres aflitos com os crediários a perder de vista que acabam de assinar. Hou-hou feliz natal, grita outro papai noel vigiado pelo patrão atrás do caixa.
Percebe que sua caçada por um bom almoço vai ser um pouco mais difícil que imaginava, filas por todos os lados, imagina como seria o natal no campo e que talvez fosse mais fácil pescar mesmo, acaba entrando numa padaria e pedindo um hambúrguer, uma coca e mostarda. Será que tem mostarda no campo? Se pergunta. Ah essas coisas tem em todo lugar hoje em dia. Volta para casa pensando no natal, que esse ano não vai dar ou receber presentes, nem vai ver qualquer programa de retrospectiva, nem a missa do galo, nem os fogos em Copacabana, vai fugir para o campo, montar a barraca no meio do mato, pensa que é melhor levar mostarda e coca, putz, mas como vai colocar a coca pra gelar, pensa que é melhor ficar em casa mesmo e tomar um dramim na passagem de ano.

terça-feira, dezembro 20, 2005

o corpo que balança

O corpo balança, as brasas dos cigarros riscam o escuro e os olhos ardem com a fumaça, o mundo gira a seu redor, as pontas do seu cabelo molhado pelo suor grudam pelo pescoço e pelo rosto, os pelos dos braços se arrepiam e tudo que faz é dançar até se esgotar. Quando a música para se da conta que é dia e a festa já não mais existe.
Volta caminhando, o céu começa a avermelhar e os primeiros raios de sol atravessam a noite já clara, os primeiros trabalhadores passam e invejam aquele lento andar próprio dos que não tem qualquer compromisso. Para na padaria e compra uma água e um maço de LM (o cigarro do rock), toma a garrafa de uma vez só e acende o primeiro cigarro do dia, ou o último da noite?
A manhã é quente e o sol forte, mais um trabalhador passa de bicicleta e lhe lança um olhar, não de inveja, mas de reprovação, como se dissesse: quanta vagabundagem. Tava na cara, nas roupas e no sorriso que voltava de uma bela gandaia, desfilava pelas ruas como se fosse uma passarela, seu papel? Seu papel é aquele que toda mãe não quer para a sua cria: o da irresponsabilidade, vadiagem, promiscuidade e etc.E como representa bem, representar não é bem o termo, e como vive aquilo bem, dança incrivelmente, trepa alucinadamente, toma porres homéricos, fuma desesperadamente, nunca teve um emprego sequer, joga sinuca como ninguém, existe simplesmente para diversão irresponsável, aos vinte e tantos anos da aula de malandragem e nem colegial terminou. E assim vai levando, e não há em toda boemia, homem ou mulher, que não a conheça, ela é conhecida por um nome simples, não se sabe se é o verdadeiro, mas a chamam de Amélia.

parede mofada

Fuma como nunca. Bebe como jamais fizera. Desesperada angústia de um bem viver, não sabe se é certa a maneira que faz, mas mesmo assim atropela os acontecimentos e vira uma taça após outra com a voracidade dos jovens poetas românticos.Talvez morra aos quarenta, ou ainda antes, dado sua magreza e a negritude de suas olheiras. Seu pulmão dói ao menor esforço, sua cabeça só fica leve quando o corpo é entupido por aspirinas e não consegue comer, quando o faz vomita desesperadamente. A cada tosse espera pelo sangue que não vai demorar a sair de sua boca, seu pau não fica duro quase nunca, não pensa mais em transas e nem sequer se masturba, a morte se aproxima como um cão farejando o mijo do rival, seus olhos secos só umedecem quando avista os retratos dos bons momentos colados pela parede mofada de seu quarto.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

só, eu e meus pensamentos

O lento circular dos ponteiros do relógio é o retrato do dia, ela fica zanzando pelo apartamento com preguiça de existir, da sacada do oitavo andar fica a observar os transeuntes procurando pessoas familiares, acende o cigarro e tenta acompanhar seu cuspe até o momento que se espalha no chão, mania que a acompanha desde criança, fica tentando acertar um em cima do outro ou uma cabeça qualquer.
Volta para dentro e deita no sofá vermelho e preto e dali contempla o teto e o silêncio que só é rompido por um motor barulhento que passa pela rua, desce e compra algumas cervejas, fim de tarde melancólico.
No mercado passeia entre as prateleiras olha os preços e as pessoas que a tempos já não lhe interessam, criou um pleno desprezo pelo ser humano, vive só e evita ao máximo multidões, na rua procura as calçadas mais vazias, os lugares ela freqüenta nos momentos de tédio e para necessidades fundamentais como comprar comida cigarro e álcool.
Volta para casa com impaciência neurótica de sua existência, só entra no elevador quando vazio, deu sorte dessa vez, ele o aguardava como se adivinhasse seu mal humor, em certa ocasião ficou por mais de hora esperando, pessoas chegavam e ela esperava, por pura implicância não subiu pela escada, esperou que ninguém fosse mais subir e então entrou no seu elevador sem ter que passar por aqueles eternos momentos de silêncio entre quase conhecidos dentro de um elevador, ta aí algo que ela realmente tinha pânico.
Em casa o telefone toca e ela fica lá contemplando o aparelhinho até que enfim para e só então ela consegue respirar normalmente, resolve desligar de vez o aparelho, só não tinha feito isso até então porque cultivava certo prazer em ficar lá ao lado enquanto tocava, só para não atender. O que lhe dava prazer agora a deixava aflita, assim também era com os ônibus, adorava entrar em qualquer linha que passava e ficar rodando pela cidade, qualquer um que estivesse vazio é claro, até o dia em que fazia o itinerário que mais gostava porque sempre estava vazio, sempre até aquele dia, quando por um motivo misterioso – talvez um outro ônibus quebrado ou o fim de algum evento – começaram a entrar muitas pessoas e muitas crianças, pequeninos seres que ela não suporta, quando se deu conta estava perdida entre uma multidão barulhenta e feliz, suava frio e tinha ânsias e ali mesmo vomitou, quando consegui sair jurou pra si mesma que nunca mais entraria num ônibus, e la se vai um ano de promessa cumprida.
Tem se tornado cada vez mais sistemática e tem se arrumado muito, troca de roupa pelo menos três vezes ao dia, mesmo sabendo que não vai encontrar ninguém quer estar sempre bonita e se olha muito no espelho, tem uma técnica muito particular de se vestir e se despir, sempre arruma o cabelo ainda nua, depois as bijuterias e por ultimo as roupas pra se despir primeiro tira a roupa, bijus e cabelo e faz isso ao menos três vezes ao dia.
Já desistiu de ter animais, já teve peixe e gatos, não gosta de cachorros, o peixe morreu ainda na primeira semana o ultimo gato tinha dois anos quando caiu da sacada ao tentar dar um bote numa pomba. Então decidiu ser sozinha mesmo até música parou de ouvir, vendeu a tv e agora pensa em dar fim nos livros e ficar só ela e seus pensamentos.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

dia quente

Parece que ouço o barulho da pele que o sol queima, a cabeça dói e o suor umedece as roupas, sinto o gosto do sal nos lábios e o fim do caminho nunca chega, do outro lado do vale no alto do morro já avisto minha casa. O calor sobe do asfalto e desce do céu, o dia tão azul, a água do lago tão escura e as pernas já bambas.
Os olhos só param de lacrimejar quando entro em casa, a água gelada desce vitoriosa pela garganta seca, vou deixando as roupas espalhadas pelo quarto e, quando nu, deito-me no chão de madeira olhando pro teto, ali adormeço apesar de parecer derreter e escorrer entre os vãos do assoalho.
Quando acordo e me levanto percebo que no chão permanece a forma salgada de meu corpo, já no chuveiro a água gelada provoca arrepios e calafrios até que a temperatura do corpo se iguala a ela, ou seria o contrário? Por um longo tempo não me movo deixando que a água escorregue pelas costas e pela face e se vá para o esgoto levando consigo aquele pó vermelho daquele dia irritantemente amarelo.
O rastro molhado do caminho entre o banheiro e o quarto fala do descaso pela toalha, molhado, me jogo no mesmo chão empoeirado de antes, o ar denso é de difícil acesso para as narinas e para o pulmão, e assim permaneço, como um peixe fora d’água que luta para sobreviver e respirar, cansado de lutar me entrego ao café quente e ao cigarro em brasa.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

AEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE

EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE.

terça-feira, dezembro 13, 2005

era só o jeito dele.

Não o comovem essas pequenas alegrias, essas que fazem as pessoas rirem à toa, ultimamente tem se dedicado a músicas tristes e palavras amargas, pensa muito nos seus dois amores, é sim! Ele realmente tem dois amores, não da gargalhadas aquele moço, se preocupa com grandes questões e tem bebido muito.
Vive só mas esta sempre rodeado de pessoas, é! Pessoas: seres humanos sabe, esse tipo de animal que destrói a si e aos outros, seres únicos esses. Gosta de ouvir música alta, de blasfemar, de belas canções - se tristes melhor ainda.
Anda pelas ruas, de preferência quando noite, gosta dos bares pequenos e escuros, ouve conversas alheias e simula conselhos mirabolantes, usa calças risca de giz e às vezes numa combinação estranha, veja só, coloca camisa xadrez, sei lá, mas diz que ta na moda né! Não me agrada muito não, mais enfim, é do gosto dele né. Dia desses o vi desse jeitinho, calça listada e camisa xadrez, sentado num bar encostado no balcão e lia um jornal, pois é, jornal no meio da bagunça do bar, eu mesmo não critico, mas tem gente que acha esquisito.
Não gosto fica falando de pessoa que não conheço, acho que ele tem que ser la do jeito que quer né, eu mesmo tenho minhas esquisitices que pra mim é normal sabe, mas então, esse moço de quem falo, diga-se de passagem: rapaz bem apessoado de jeito de gente fina, de grana, que não faz mal a ninguém, levou uma surra daquelas. Ele tava la com sua revistinha, lendo numa mesa la no bar e uns moço que tavam do lado começaram com umas provocação, e chamaram o moço de viado e tudo só por causa daquele jeito dele, ele nem deu bola pros moço, levantou e foi pra outra mesa, mas não é que eles implicaram com o rapaz e a todo momento davam um jeito de apurrinhá o cara.
Depois de um bom tempo ele pediu sua conta, pagou e foi indo. Eu vi quando cercaram ele e começaram a bate, poxa, eu véio já né, não podia ajuda, eu chamei a polícia mas demoro muito, o rapaz apanho tanto que foi pro hospital de ambulância. E só por causa do jeito dele.

nó na garganta

Londrina ta ficando distante, ai-ai. Esse aperto no peito, esse nó na garganta e essa lágrima que rola suave pela face. Tem horas que é preciso deixar a coluna ereta e respirar fundo, tomar um porre e falar do passado.
Faz calor na jovem cidade e os pelos do corpo ficam arrepiados só de pensar que daqui a pouco não mais vou andar por suas ruas, nada de desbravar morros na busca dos bons e velhos bares, já sinto falta das voltas embriagadas pelos vales e lagos, do inverno londrino e do calor infernal.
Já sinto falta dos encontros prováveis nas noites imprevisíveis, da cerva barata daqueles botecos que só agente sabe o que foi. Nós vamos, mas lá no fundo agente leva um: “quem sabe não acabo parando aqui de novo”.
Tem horas que é preciso respirar fundo, colocar um fone de ouvido e por o som no talo, seja cat power ou ramones, aí você não pensa: só grita e fuma um cigarro atrás do outro e esquece as dores do mundo.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

lembranças

O vento parou de soprar e o ar é tão denso que pesa sobre minhas costas. Volto para casa e não sinto nada, nem desejo de ir nem de ficar, esse sentimento de que as coisas não mudaram. Tenho me enganado esse tempo todo? Que sentimento é esse que sempre me deixa angustiado, sempre falta algo, sempre uma ponta de frustração que me persegue. O sangue corre lento pelo corpo apático, o “pré-sentimento” de que mais uma vez vai ser quase, cansado de ser sempre quase... quase fico feliz com o que é certo, amargo, pois é, me torno cada vez mais amargo.
Os amigos estão indo embora, as faces começam a se apagar da memória, retratos que nunca foram tirados tornam distantes momentos que nuca serão esquecidos, entre nós fica a lembrança do gosto de álcool e tabaco, ainda ecoam aqueles rock’s que nuca mais serão os mesmos, acho que vou mudar o meu jeito de dançar, vou parar de ouvir aqueles discos, não quero mais cantar.
É! Eu sei que é estranho, deveria mesmo ficar feliz, não deveria não, o que me anima é ver meu bem, mas então, tenho que desfazer minha mala e sacudir a areia, ah meus amigos! Como vocês vão me fazer falta. Continuo a passos incertos escorados no vazio tateando o mundo pra ver se acho o caminho. Melodrama de quinta? Não acredito que faça diferença, de onde vem essa tristeza? Não sei, talvez seja só parte da performance.