Era uma manhã calma e bonita, poucas nuvens enfeitavam o céu e o sono ia se despedindo com os goles no café e os tragos no cigarro. Um dia inteiro para nada fazer. Pensa que sua vida na cidade mais parece um bucólico viver no campo... seus discos, livros, blá-blá-blá... sentado na mesa brinca com os farelos do pão na toalha xadrez e fica observando a fumaça do cigarro brincando no ar.
Senta-se no sofá e fica olhando sua imagem refletida na tela da tv desligada, pensa num passeio qualquer que sirva de distração e ajude a passar o tempo, como tem sido longos os dias daquele verão, longos e quentes, pensa que não faria tão mal nadar no poluído lago ali ao lado da sua casa, afinal nunca ficou sabendo de alguém que morreu por ter se banhado ali, melhor deixa. Vai uma chuverada mesmo.
Sai do banho e caminha nu pela casa, deita na cama e fica olhando pro teto até que, hora e meia depois, a fome aperta e resolve sair pra caçar um almoço. É bom caçar na cidade, basta um cartão de crédito nem munição precisa, pode pescar também e nem precisa de vara ou arpão, apenas de um talão de cheque e nem fundo precisa ter.
Veste-se cuidadosamente para parecer casual e pega o ônibus de não sei quantos cavalos de potencia, diz bom dia as pessoas mas ninguém o responde, desce no centro e percebe que é fim de ano, só agora se da conta que se aproxima o natal, na frente da loja um papai noel de roupa vermelha, manga e calça compridas e toquinha derrete ao sol de quarenta graus dos trópicos, o frenesi das pessoas no entra e sai das lojas com vitrines decoradas de vermelho, verde e neve, crianças chorando, homens e mulheres aflitos com os crediários a perder de vista que acabam de assinar. Hou-hou feliz natal, grita outro papai noel vigiado pelo patrão atrás do caixa.
Percebe que sua caçada por um bom almoço vai ser um pouco mais difícil que imaginava, filas por todos os lados, imagina como seria o natal no campo e que talvez fosse mais fácil pescar mesmo, acaba entrando numa padaria e pedindo um hambúrguer, uma coca e mostarda. Será que tem mostarda no campo? Se pergunta. Ah essas coisas tem em todo lugar hoje em dia. Volta para casa pensando no natal, que esse ano não vai dar ou receber presentes, nem vai ver qualquer programa de retrospectiva, nem a missa do galo, nem os fogos em Copacabana, vai fugir para o campo, montar a barraca no meio do mato, pensa que é melhor levar mostarda e coca, putz, mas como vai colocar a coca pra gelar, pensa que é melhor ficar em casa mesmo e tomar um dramim na passagem de ano.
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