terça-feira, janeiro 24, 2006

madrugada meu bem

A madrugada segue a cantar serenatas em meu ouvido, sussurra baixinho que me quer bem, me quer pra si, ela canta seu amor por mim como quem diz que somos nascidos assim: um para o outro. Chama-me de seu amor e da corda Mi de seu cavaquinho me prometeu uma aliança, tira um lenço para enxugar uma lágrima que desliza sutil pela minha face, diz que é só minha e que eu devia sorrir mais.
Ah! Minha querida! Dei-te tanto de mim e agora você tem me maltratado tanto, me deixa assim a chorar pelos cantos, não me venha agora com samba canção que a tempos me deixa um vazio no peito, esse seu romantismo minha querida tem me feito melancólico, agora não me venha com pedidos de sorrisos, deixe-me aqui com Dona tristeza, essa sim tem sido companheira, de fumaça e de copo.
Você minha querida madrugada me conquistou com esse seu jeito boêmio, me levou a tantos sambas e cantava ao meu ouvido, brindamos muito eu sei, não desconsidero nossos dias de comunhão intima, tantas vezes colocou a lua lá só pra mim eu sei. Não! Claro que não desconsidero. Mas me abandonou e levou sua alegria, deve ter se cansado de mim, você nunca prometeu fidelidade eu sei, sempre deixou claro que era amante de muitos, até me disse que preferia os morros, que lá te respeitam, que prefere cachaça à uísque, eu sei.
Mas não entendo porque me deixou assim, deixou Dona me roubar de ti, pois agora meu bem é outro, temos sido amantes vorazes eu e Dona, ela chega de mansinho a acariciar meus pensamentos e logo vai tomando conta do meu todo, ela tem um gosto todo especial por lábios salgados e insiste em provocar lágrimas a escorregar até a boca.
Estou com medo minha querida madrugada, não consigo me livrar de Dona, você podia me convidar para um samba, me tire daqui minha querida, me leve para longe, temos que partir logo, acho que vou aceitar essa sua aliança antes que seja tarde, já sinto algo a apertar o peito, os pensamentos já estão tomados, é agora não há mais jeito, Dona já esta aqui a umedecer meus olhos, ai! Queria fugir contigo mas já sinto a boca salgar. Vá cuidar dos seus agora minha querida madrugada, que eu vou ficar com a outra a me embebedar.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

mal de lonjura

Não tinham me avisado que lonjura dói, alguém agora faça-me o favor de ensinar remédio de curar dor de lonjura, só falem comigo se for pra passar tal receita. Suspirar eu já tentei, não funciona não, já tentei beber até quase morrer mais curou não, já tentei música de sofrer e só piorou, poesia então, essa ae só me fez mais sofrer, agora to bebendo água de ponta cabeça que nem pra soluço mais ta dando não, um cigarro após o outro só da tosse e pigarro, tratar tal mal trata não, pra lonjura não doe só sei é sonhar que distância tem não, mas sonho passa e quando você acorda cai de volta em solidão, ah se souberem de remédio pra tal mal, esse mal de lonjura, me diz que terá de mim toda gratidão.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

são paulo acorda cedo


essa foto e texto foram roubados do http://fotolog.terra.com.br/elanajanela:5, acho que foi a coisa masi bonita que eu ja li sobre são paulo, achei lindo demais.

São Paulo acorda cedo. É uma mulher bem disposta, mas nervosa. Já de manhã, põe-se a gritar, insana que é. A manhã é, para ela, o pior momento do dia. É quando descobre que terá de viver consigo por muitas horas. São Paulo acorda cedo e com o coração acelerado. Ela tem ânsia de si. Mas São Paulo sabe ser doce. Provoca o riso nervoso dos homens que não sabem o que fazer diante da sua tentação poética, porque São Paulo é, antes de tudo, a verdade escancarada. Sonha fazer mistério, guardar segredos, mas a ânsia, enfim, não permite. São Paulo é uma mulher decidida. Sabe o que quer e, muito embora seja romântica, sabe-se desejada e, portanto, flerta. São Paulo investe: tem curvas perfeitas, bem definidas, os olhos acinzentados, as mãos pequenas e macias, a boca bem delineada, o corpo de lascívia e pureza, seu único enigma. São Paulo faz poesia e tem os cabelos descompromissados. Sabe que é rara, porque desordena, como poucas, a beleza. É uma mulher voluptuosa e delicada pela poesia. Conhece a arte do sorriso por sobre o ombro. Domina a conquista pela timidez, pela elegância das sutilezas. São Paulo é uma mulher que tem nos quadris o samba. Mete medo nos homens porque desperta a intensidade, com seu ar de doce novidade. São Paulo é dessas mulheres que seduzem pela discrição. Sente mais frio que as outras, mas guarda na pele a temperatura ideal. É delírio por debaixo da saia de menina assustada. São Paulo sofre. Observa o mundo como um bicho amedrontado. Mas, se começa a atravessar a rua com lágrimas nos olhos, do outro lado, já os têm secos. São Paulo esquece.

sempre acaba

Sempre acaba! É o que pensa quando apanha o último cigarro do maço, e tem acabado com uma rapidez que não era muito comum. Não consegue muito bem conceber os motivos pra tamanha ansiedade que lhe acompanham nos últimos tempos, as coisas vão bem e seu mundinho tem se realizado com certo planejamento, talvez seja culpa da monotonia do planejado, ou talvez seja por culpa do por vir, que apesar de planejado traz um pouco de imprevisto, cuidado com o que deseja que pode se realizar é o que dizem por ae né. Não sabe bem o que fazer com o que lhe vem pelo seu desejo, devia se preparar melhor mas fica num esperar que o tempo se desenrole, o corpo suando numa falta de movimento e o pulmão enegrecendo num engolir de fumaça constante, o som rola enquanto olha estático, ora para a parede azul, ora para o chão de madeira, ora para o teto branco. A respiração é lenta como o movimento dos ponteiros do relógio, o ar é denso a fumaça do cigarro demora a se dissipar produzindo formas quando alcança o feixe de luz do sol que invade o quarto pela janela, os dias tem sido quentes nesse verão inerte de dias claros e intermináveis. Precisa se mexer, vez em quando, para compra cigarros, afinal: sempre acaba.

o primeiro trago

inspirado em "um bom fumante" delirado por marco de maupassante no blog www.meucadernovermelho.blogspot.com

Seu tio lança a bituca do derby vermelho ao chão, as faíscas produzem uma micro explosão de minúsculas fagulhas vermelhas, o garoto fica olhando, esperando o momento certo para o bote, aos onze anos sabe muito bem os momentos certos para botes - “se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora” -, seu tio vira as costas, ele de longe desamarra o cadarço, anda até a bituca, abaixa-se amarra o tênis verifica se ainda esta acesa, apanha com a mão em concha e caminha rapidamente para o quintal dos fundos, senta-se atrás do tanque e pensa que não deve ser difícil, puxa a fumaça que lhe invade inesperadamente a garganta, engasga e tosse, uma tosse enroscada, os olhos enchem de lágrimas e é preciso certo esforço para segurar o vômito. Abre a torneira do tanque, molha o rosto,lava a boca e as mãos para apagar qualquer vestígio da infração. Fica contente por todo o plano ter sido realizado com grande sucesso, mas entristece com a decepção do fumar, algo tão belo não podia ser tão ruim, levaria mas uns quatro anos para a próxima tentativa, e outros quatro para seu cinzeiro permanecer quase sempre transbordante.

traje de domingo

O dia começa ceder à noite, ela traz ao seu espírito algo de confortante ao mesmo tempo que inquietante, quer sair a andar pelas ruas, gosta de ouvir seus passos incomodando o silêncio ao lado de latidos distantes, gosta de passar pelo lago e ouvir os murmúrios da água, ao andar faz planos e pensa no passado, foi assim sempre, gosta de sair só e criar expectativas sobre o que vai ser mas quase sempre nunca é. Hoje vai ser diferente: é o que sempre pensa.
Arruma-se, sua melhor roupa, roupa de domingo é o que pensa, assim era quando ia à missa domingo pela manhã, quando criança sua felicidade era poder usar sua melhor roupa, aquela que nunca podia colocar para brincar, era permitida apenas para missas e festas, gostava de observar as pessoas pelo caminho da igreja, caminho feito a pé. Com seu traje de domingo faz seu caminho, agora não mais domingo de manhã, prefere as noites, mas ainda a pé, não mais levado pelas mãos da mãe, agora só.
Agora caminha só, fuma cigarros e bebe conhaque, sua mãe continua a querer levá-lo à missa, pelas mãos se fosse possível, reclama muito de seu gosto por cigarro e bebida, e de suas caminhadas noturnas pelos bares da cidade. O mundo o roubou de mim: ela deve pensar. Agora ele quer ser tomado pelo mundo, pertence aos balcões e gosta muito de dormir nos domingos pela manhã.
Sente-se bem ao cumprir seu ritual, não mais dominical, ao pisar na rua acende seu cigarro de filtro branco, caminha observando as coisas ao seu redor na tranqüilidade de seu caminho silencioso, anima-se ao chegar no centro e ver o frenesi circular de carros e pessoas, gosta de chegar ao bar quando ainda não há conhecidos e pedir a primeira cerveja no balcão, ao primeiro gole o primeiro trago do próximo cigarro. Sua roupa de domingo logo vai estar tomada pelo odor do cigarro e por respingos de bebidas quaisquer, logo vai estar tomada pelo suor do corpo a dançar, amassada por mãos a lhe apertar, talvez seu traje de domingo vá estar a escutar gemidos ao pé de uma cama qualquer.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

andava a querer um qualquer

Ela andava a pensar em seu bem com certo desdém, não que não gostasse mais de seu moço, mas queria pensar em outros braços. Ele parou de falar certas bobagens em seu ouvido e andava com determinada mania em ser certo, mas de certo mesmo só queria era as velhas sacanagens que agora iam de modo muito comum: - se ele me virasse de costas como no principio seria mais interessante. Tem reclamado dos pelos que começam a despontar pelas pernas: - mas cresce mesmo tais pelos, são seres que crescem. Fazer o que? A moça andava a querer qualquer um que não estivesse tão preocupado com tantos poréns.
Andava a querer dizer sim a um qualquer.Não por maldade ou o que chamam de traição, mas por desejo de carne, não por falta de bem querer, o que ela quer é pelos de faces estranhas a passear por seu colo, bocas de hálitos estranhos a beijar seus seios, troncos a encaixar entre suas pernas, quer ouvir pedidos para que se vire de costas.
Cruzar esquinas de mãos dadas a seu bem continua sendo agradável, mas bom mesmo era quando lhe tirava pra dançar em plena praça pública e sem som de acordes qualquer, quando lhe sapecava um beijo surpresa no meio de caminhos, coisas que pouco lhe são ofertadas ultimamente, andava querendo aceitar convites para danças em praças e a pedir beijinhos a estranhos, quer ser chamada de minha garota, mas o que tem ouvido é um querida sem sal.
Por respeito seu bem não lhe passa a mão em publico, gostava era quando aquelas mãos ficavam a lhe passear entre as pernas por debaixo da mesa do bar, lembra que certa vez o garçom lhe presenteou com uma camisinha dado o jeito que se pegavam em pleno bar, agora anda a querer usar tais artifícios de proteção com o próprio garçom.
Pois não pode mais viver assim só com seu bem, quer dividir lençóis com outro alguém, que lhe de mais que um: oi meu bem, ou bom dia querida. Quer acordar com um pau duro a lhe provocar entre as pernas, quer um qualquer a lhe pegar por cantos de bares cheios, andava com vontade de sair só e tomar porres homéricos, de ficar a flertar e de dar pra um outro.
Andava pensando e se sentir bem, em ter prazer em retocar a maquilagem entre travestis e mulheres estranhas a falar de rostos bonitos que estão presentes no bar, não quer se preocupar tanto com coisas poucas, e muito menos em agradar um homem apenas, quer ser gentio com outros quaisquer, quer sentir gostos de bocas estranhas e cheiros de pescoços variados, andava cansada do mesmo perfume e de ser chamada de querida. Andava a preferir ouvir um gostosa ao pé do ouvido, andava a querer visitar camas alheias e ir embora sem se despedir, quer escolher cds em quartos distantes do seu, perguntar a estranhos sobre o que gosta de ouvir enquanto transa, andava meio cansada de seu bem e de seus gostos musicais atuais. Andava a querer novos sons, novos gemidos, novos pedidos.
Andava a querer experimentar outros cafés e outras cozinhas, outras vozes a sussurrar em seu ouvido e outras bocas a lhe morder os lábios, quer variar de corpos a pesar sobre o seu. O não quer mais é ouvir um meu bem sem sal. Quer passar o carnaval entre malandros cariocas de navalha no bolso ou beber cerveja com paulistas boêmios, andava a querer samba ou rock desde que com um qualquer que lhe minta o nome.

sábado, janeiro 14, 2006

banheiro verde e rosa

Tinha uma banheira verde em um banheiro rosa aquela formosa moça, além disso, que não é pouco, imagine só uma banheira de cor de carnaval, ela tinha um olhar todo seu, de quem apronta uma peça e finge que nada aconteceu. Pois então, não convida ninguém pra freqüentar sua banheira, vê se pode, quanta provocação. Se pudesse iria eu mesmo ver tal fato, banheiro verde e rosa não acredito que exista não.
Pois talvez haja, em certo canto, tal feito, devia ganhar presentes quem inventou este objeto, ou melhor esse todo que é feito de verde e rosa, isso é coisa de morro de samba, tão cantado por ai, imagine se sabem que existe tal dama a se banhar em tal ambiente, ainda se fosse só pelas cores. Mas não! Tem toda uma formosura que fica a transitar por lá, ah, devia eu freqüentar tal lugar. Mas essa honra não tenho, quem me dera! Ainda mais em dias como os de hoje que faz um quente que nem sabia que podia.
Mas posso não, esse é um daqueles eventos que devia acontecer na vida de certas pessoas, devia é ser lei que todos tenham banheiros verde e rosa, e que pra quem não tem, devia haver convites formais para tal freqüência, devia sim. Mas como não há, ficamos assim a ouvir sambas e a tropeçar em calçadas cinzas, e o que consola é a companhia de um cigarrinho, na falta de tal dama e de seu banheiro verde e rosa, fica-se com um bom trago de LM e uma chuverada em banheiro bem comum, sem tais cores e tal presença.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Jardim Cipava

Quando criança vivia a observar as nuvens a procura de formas, gostava muito de soltar pipa, andava olhando pra cima, vira e mexe tomava um beliscão da mãe acompanhado de um: presta atenção menino, fica ai olhando pra cima, parece bobo, vai acabar sendo atropelado. Mas não deixava de olhar não. Pronto para correr a qualquer momento atrás de um pipa - menino fala um mesmo, masculino sim, essa coisa de uma pipa é para adultos - corria sem medo de atropelamentos mesmo.
Sempre teve uma ligação forte com o céu, gostava muito do contraste do azul com o colorido dos pipas ou o branco acinzentado das nuvens, tinha medo é de enroscar o pipa numa das milhares de antenas de televisão, muito vizinho teve antena e telha quebrada, lá na minha rua era assim, os meninos corriam pelos telhados dos sobradinhos amontoados, já levei certos tombos de laje, mas parecia até de borracha, machucado sério nunca tive não.
Morava em cidade grande que mais parecia interior de tão a vontade que a meninada ficava, e tinha pé de arvore de fruta pra subi e tudo, ameixa, tinha transito também lá em Osasco, morava numa avenida muito movimentada e ficava a jogar aviãozinho de papel nos ônibus, tinha de acertar bem na janela aberta e se uma testa pegasse era uma gargalhada só, mas o maior de todos os feitos era fazer a aviãozinho atravessar o ônibus por dentro entrar por uma janela e sair la pela outra com o ônibus descendo a XV na maior velocidade, vez em quando acontecia.
Tinha carrinho de rolimã na rua de cima, descia um bando a brincar de derrapar, fechadinha e batida, pião também tinha a rodar, pião batata, cenoura, ficávamos a colorir em espiral os piões, da um efeito bem bonito quando roda. Bolinha de gude: no quintal de terra é que era bom pra fazer cela.
Infância no Cipava era bom demais, tinha corguinho pra fazer aventura a caçar ratos com estilingue, e cano pra atravessar se equilibrando, tinha cheiro de esgoto sim mas era bem comum pra gente, acho que fumaça e esgoto eram os cheiros mais fortes da minha infância, antenas de tv e muitas pipas no céu em tempos de férias, esse é meu jardim Cipava.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

sem rancor

Parado! Assim, quase que estático frente ao seu olhar estarrecido e por aquelas palavras que, por si só, eram vomitadas sobre ele. Não o culpo por merecer cada um dos sentidos expressos, não me culpo por te falar cada coisa que a anos me apertava a garganta a cada humilhação tua, eu sei que era portador de teus mais caros ascos, eu sei que merecia cada vez que me alfinetava com o fel todo teu. Mas agora não mais engulo seco, vomito nesses pés que tanto me pisaram e que tanto beijei.
Não consigo mais, não que o desejo seja menor agora que nos primeiros tempos, talvez seja porque seus olhos não brilham mais a cada ofensa tua, enquanto ainda via emoção naquelas palavras não conseguia sequer respostas, mas agora são tão pobres seus bravios infames que me parecem sem vida, sem raiva, sem nada, ah e isso eu não suporto. Falta de sentimento e emoção não tolero, quero amor ou ódio.
Se for me ofender o faça com força no olhar e desprezo na vós ou cale-se, a quase cinqüenta anos que tenho meu peito e garganta sufocados por suas torturas, agora nem isso consegue mais, nunca foi capaz de me amar, pois tolerei seu ódio que era verdadeiro, agora que nem isso mais pode me conceder não te tolero mais, quero que saia ou mato-te, mas como sair não pode corto tua garganta e fico a observar seu sangue escorrendo e umedecendo os lençóis dessa cama.
Cama essa que tanto usou pra tomar meu corpo de forma tão enfurecida, nunca foi capaz de demonstrar carinho, mas me possuía com toda a raiva tua, admito que sentia prazer no teu pau me penetrando furiosamente, sentia a vida pulsando em suas veias, mas agora nem meu corpo mais te interessa, agora que você esta ai jogado imóvel nessa cama, não tem forças nem pra desfeitas, esse olhar sem brilho, ah isso eu não tolero, acho que vou cortar a sua garganta.
Veja essa faca, lembra quantas vezes já me ameaçou com ela, lembra quando você a encostava em meu braço e falava pra eu sentir o metal gelado, e fazia um pequeno arranhão na minha pele com a sua ponta e me pedia pra engolir o choro, quando via as primeiras lágrimas a escorrerem dos olhos de pavor. Veja agora, sinta o metal gelado na sua garganta, esta sentindo, será que o senhor é capaz de sentir alguma coisa. Esta sentindo a lamina que começa a penetrar sua pele, eu já consigo ver o sangue a escorrer, agora sim vai escorrer mais rápido, o corte já é fundo, vou gostar de observar o lençol a ficar rosa e depois vermelho, quer que eu beije seus pés agora meu senhor, não é capaz de me exigir mais nada. Se eu soubesse que me daria tanto prazer te ver sangrar assim feito porco no abate já teria feito antes, mas vai me dar um trabalho danado limpar essa sujeira toda, lembra que me exigia tudo na mais cândida limpeza. Pois bem vai estar tudo um brinco quando seu caixão chegar, e vou mandar por em você aquele terno que nunca usou mas me fazia engomar toda semana, e os sapatos vão estar engraxados como gosta, não se preocupe meu bem eu vou limpar esse sangue todo também, tudo vai estar ao seu gosto, como sempre.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Dona.


De onde vem esse aperto no peito não sei bem, o que posso fazer é esperar, sem tomar remédios, que remédio pra isso tem não, remédio pra deixar de lado a tristeza eu não conheço, a não ser cachaça, mas esse pode ter efeitos colaterais, tais como: desespero, agonia, ralados pelo corpo dado as quedas. Além do que seu efeito é bem passageiro e pode potencializar a tristeza e causar lágrimas e soluços contínuos, quero isso não, pelo menos não hoje.
Acho que vou mesmo é me dedicar a músicas tão tristes quanto eu hoje, me dedicar a filmes de sofrer, será que vai passar filme de sofrer na tv, posso ir ao cinema sozinho, talvez depois de fumar esse maço de cigarros ela vá embora, tomara que vá pouco a pouco junto com a fumaça, vou ficar olhando bem pra fumaça pra vê se ela ta indo.
Não tem vento hoje e a fumaça custa a sair de perto, acho que é a Dona tristeza que insiste em me rodear. E na cinza? Será que ela fica ali e vira cinza? Queima em brasa como se cremada, vou cremar a Dona na brasa do meu cigarro e acumular seus restos entre bitucas e cinzas. Ai, não ta funcionando não.
Vou ficar assim mesmo, só que vou escurecer esse lugar e colocar um fone de ouvido com música de cultivar tristeza, vou deixá-la crescer até que exploda. Será que explosão de tristeza dói muito? Será? Sei não. Acho que vou andar entre os lagos pra ver se a Dona se afoga por lá. Agora quem apareceu grande entre as nuvens da quase noite mais que dia é a Senhora lua, a Dona e a Senhora se dão muito bem, acredito que elas vão querer prosear durante a noite inteira, e eu vou ter que agüenta-las e nem reclamar eu posso, vou alimentar muito a Dona pelas próximas horas, se ela explodir tomara que não doa muito.
Tem uma lágrima aqui me pedindo pra sair, quer deslizar pelo meu rosto, quer me beijar, me disse que só para quando na minha boca chegar, diz que vai me deixar com gosto bom entre os lábios, falou que quem quer que ela saia é a Dona, acho que Dona esta se apaixonando por mim, ela não me deixa quase nunca, esse é um daqueles namoros que não tem muito como dar certo, é muita espaçosa, logo já toma conta de tudo e quer que suas vontades sejam sempre as primeiras. Agora ela quer me tirar pra dançar enquanto me manda lágrimas à boca, tudo bem, então vamos dançar e trocar beijos salgados.

terça-feira, janeiro 10, 2006

adendo

não tenho dado os créditos às ultimas imagens postadas aqui, foram todas roubadas por ai, a do Che é uma clássica do Andy Warhol, os dois outros vitrais eu peguei por ai mesmo, não sei de quem é não, estou me sentindo até um pirata robando pelos mares internalticos.

cliche

Quando eu era jovem tinha uma imagem de rebeldia, e assim eu queria ser, rebelde. Rebeldes deviam ter longos cabelos então deixei crescer, deviam ouvir rock e fumar cigarros, hoje fumo compulsivamente. Mas precisava de uma causa, familiar não dava a minha é ótima. Tava ficando meio hippie, mas essa não é minha época, as garotas já usavam camisinha e pílula e o rock já não assustava ninguém, precisava de uma causa ou cortar o cabelo.
A política. Aí estava uma bela causa, lutar contra a pobreza e as injustiças sociais. Então conheci Che Guevara e o comunismo, pronto ai estava, seria um rebelde comunista revolucionário. Chegou a época do vestibular pra classe média, lá estava eu fazendo prova pra Ciências Sociais. Universidade, Centro de Ciências Humanas, ali esperava encontrar meus companheiros de revolução, rebeldes de todos os lados prontos para o mundo, tamanha foi a decepção quando vislumbrei aquele mundo, de um lado o bom e velho universo esfumaçado hippie, de outro um belo universo conservador de homens e mulheres a busca de seu diploma e do melhor salário. Claro que a dicotomia não era tanta.
Ta, entre tudo isso temos os estudantes engajados, política estudantil, DCEs, CAs, e etc. Comunistas de plantão, anarquistas, niilistas, ora, então lá vou eu me procurar, afinal ainda era rebelde e já tinha até uma causa, era só escolher as armas, pois bem, acabei tentado ao anarquismo. Tentei ainda sou um quase anarquista mais pra reformista mesmo.
Agora eu quero ser cientista rebelde, tenho muitas causas pra ser rebelde, tenho cabelos até que compridos ainda, se bem que com esse calor da muita vontade de cortar. Mas fumo e aprendi a tomar café, é eu sou bem rebelde diplomado. Pode acreditar, eu sou sim, sou cabeludo e fumo cigarro, se isso não é ser rebelde o que é então? Eu sou, eu sou, eu...

sábado, janeiro 07, 2006

lindo e simples

“As duas sombras, juntas, resvalavam no muro e na calçada, sobre a qual ressoavam seus passos.” frase de Osmar Lins em O vitral.
Acho linda essa passagem, é de uma simplicidade encantadora.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

uma pequenina perguntinha

Como de costume logo ao abrir os olhos pensou em fumar um cigarro, desconfio que, na maior parte das vezes, levanta-se apenas pela vontade de fumar um cigarro, para se sentir menos mal, apesar de sempre ter feito esse mesmo ritual matinal, que na realidade quase nunca é realmente matinal, ainda assim, sente sempre uma ponta de culpa, para diminuí-la, no entanto, sempre acompanha o cigarrinho com um gole de café, quase sempre morno, porque quase sempre já não mais é manhã quando o apanha na garrafa térmica, que desconfio, não ser tão térmica assim, mas veja bem, como pode se sentir menos culpado ao acompanhar o cigarrinho com um cafezinho, não seria menos saudável ainda o tal do cafezinho junto ao cigarrinho, que se fosse apenas o tal do cigarrinho sozinho?

quarta-feira, janeiro 04, 2006

entre o dia e a noite


O momento entre o dia e a noite, entre o claro e o escuro, entre o azul e o negro está vermelho, aqui em londrina o céu fica vermelho por causa do reflexo da terra. Em outros tempos homens andavam a cavalo por aqui com suas lanças a massacrar índios, lanças modernas que cospem fogo eu diria, vasculhando pseudo-vazios à procura de riquezas, talvez a terra não fosse vermelha antes, esse vermelho tem é gosto de sangue. Ó grandes heróis desbravadores, ó meus caros pioneiros, quão pobres foram seus espíritos cuspidores de fogo, ó pequena londres de terra vermelha de sangue, planejada para ser grande vai amontoando pobreza e violência pelos cantos, acantonamos aqueles primeiros agora acantonamo-nos a nós mesmos.

vitral

Do passado ainda tão presente ficam muitos sons, cheiros e gostos. O gosto preto do café, o cheiro cinza do cigarro, os sons ébrios do rock. No futuro penso em ir pra capital, queria ver se ainda existem malandros que carregam navalhas, será? Sei não. Penso em ir para terras distantes também, lá pra depois das fronteiras. Vou ver muito o mar por uns tempos, vai ser bom isso, quando velho vou dizer que la no meu passado muito distante vivi no mar, vou falar pro netos que era marinheiro e que vi muitas baleias e piratas. Passado, presente e futuro se misturam num deslumbramento bem humano, circulam em minha mente e se desfazem entre a fumaça do cigarro, que nesse momento, se mistura à do café bem preto. São sons, cores e gostos que ficam aqui misturados ao tempo e ao circular conciso dos ponteiros do relógio. Confuso. Imagens dispersas no espaço, cinema, filme, negativos, isso, negativos expressam bem esses sentimentos, melhor ainda, slides, slides da vida, será que acontece isso quando nós morremos, talvez tudo passe como slides na nossa cabeça. Quando ando na rua com fones de ouvido, sempre passo a fazer parte de um filme, as coisas passam em quadrantes pela minha retina, meu cotidiano é um filme longo e lento, o passado é curto, sobre o futuro só mesmo perguntando aos orixás. Tempo, eis um mistério, o tem pó pra mim é parecido a um mosaico, a um vitral, um oscilar entre a alegria e a tristeza presente em qualquer vitral nos seus mosaicos, tenho sempre a sensação de que o passado vive melhor em vitrais, por mais novos que sejam ali esta o passado sempre presente a nos dizer algo.

terça-feira, janeiro 03, 2006

então ta.

Ele diz: então ta. Vira-se e entra no ônibus, sem grandes frases dessa vez, sem grandes promessas dessa vez, sem lágrimas dessa vez, apenas um então ta, poderia até acrescentar um: agente fica assim então, logo agente se vê. Mas não sabe como vai ficar, apenas vai embora como tantos outros que se vão uma hora ou outra. Não se vira para trás nem acena pela janela, sem grandes cenas dessa vez, talvez assim doa menos, apenas um então ta.
Enquanto os pneus rodam pelo asfalto ainda mais negro que a noite, no interior do ônibus o silêncio só é interrompido pelo som da lágrima rolando pela face, agora só. Assim vai atravessando a noite, pela janela observa alguma coisa que a lua permita, um verde muito escuro quase negro, uns pontos claros de uma ou outra luz de casinhas no meio do nada.
Sem conseguir dormir tudo o que queria naquele momento era a companhia de um cigarro e um conhaque, sem esperanças nem de um nem de outro fecha os olhos e tenta não pensar em nada. Adormece.
Acorda com o ônibus já parado em um posto na beira da estrada, desce e acende um cigarro entre pessoas com caras e roupas amassadas, termina o cigarro e acende outro como se quisesse acumular nicotina no corpo, sente um pouco de frio e a primeira ponta de saudade de sua antiga vida. Nova cidade, novas pessoas, então ta, é o que ele diz em voz alta, poderia até acrescentar um: vamos ver no que vai dar, mas prefere só um então ta. Simples.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

tristeza tem cor

Tão breves esses momentos de felicidades tão frágeis comparados ao eterno desalento da tristeza, como pode ser tarde assim e nem comecei ainda a viver. Devia ser mais triste pra ver se custa mais a passar os instantes, quem sabe assim as músicas durariam mais, o por de sol seria mais longo, preciso de um olhar mais triste para a vida só pra ver se fica mais lenta essa existência, pra ver se esses anos passam mais de vagar, deveria ficar mais a vagar.
Tem gente que acho que pessoas felizes são mais bonitas, que nada, como são belos os olhos da tristeza, tem coisa mais infeliz que palhaço, nada mais solitário que palhaço, e músico de orquestra que tem a seriedade estampada na cara, são é tristes e solitários, devem estar muito felizes com sua tristeza longa e cansativa.
E os sambistas, e o samba, nada mais feliz que a infelicidade cantada pelos chorões do samba, pra mim não tem nada mais bonito que tristeza de carnaval, colorida tristeza. Tem acha que tristeza é sem cor, que é pálida, pra mim é muito é colorida, com paetês e plumas, verde e rosa quem sabe.
Acho que fico bonito quando triste: sozinho escrevendo de madrugada, to aqui todo verde e rosa, ouvindo Chico e Cartola.