Andava cada vez mais saudoso aquele moço. No fundo da xícara, já quase sem café, o reflexo dos seus olhos diz pra ele que é hora de voltar. O cinzeiro a transbordar angústias. Anda cansado das tais letras científicas aquele moço, não encontra nelas nada além de angústias outras. Pensa em voltar pra seu mundo aquele moço, para seu balcão amarelo. Essas músicas de cultivar tristezas lhe corroem as entranhas de tal modo que lágrimas não param mais de salgar seus lábios. O domingo é cinza para aquele moço, cinza e lento, escorre vagarosamente pelo vidro da janela do décimo primeiro andar. Não sabe bem aquele moço, passa longos momentos a olhar para o silencio das coisas e das ruas, a vida pulsa lenta em suas veias.
Entra no elevador e sua imagem se espalha pelos três lados espelhados, não se olha pelos longos onze andares, pela rua caminha a observar os pés aquele moço, como se os onze andares inteiros pesassem sobre seus ombros, não dedica seu olhar, nem às pessoas que cruzam seu caminho, nem às paredes que lhe apertam em ruas estreitas, anda a querer paisagens outras aquele moço, e anda a desejar pessoas de anteontem, das épocas de caminhadas entre lagos e morros do norte, da terra vermelha, do silêncio dividido com os latidos dos cães nas madrugadas frias regadas a conhaques e delírios, a paixões e putarias, anda saudoso aquele moço, quer falar mal de seu bar preferido de balcão amarelo, quer reclamar dos amores ao lado de Gertrudes acompanhados de cigarros e ypioca. Quer aquilo que nunca mais vai ter aquele moço.
Andava a pensar muito em tempos outros um tal moço, pensa em épocas que caminhava por vales floridos, quando pecava atrás de capelas, quando havia Ramones e coisas Desordeiras, aquele moço anda com saudade de quando ele era eles. Malandro é malandro e é mané aquele moço, mas não é o mané da ilha, é o mane da vila, dos lagos, dos bares, é mané do calçadão, das antigas.
Mas o que aquele moço sabe mesmo, e isso é que lhe aperta o estomago, é que o lago nunca mais será o mesmo, os bares estão a se desmontar e vão ficar lá no seu passado, o cinzeiro vai continuar transbordando tristezas e os amigos, onde quer que forem, estarão sempre lá, dispostos a conhaques, a choros e risos. O que aquele moço sabe é que seu lago será sempre o mesmo.
3 comentários:
o que nao pode eh o café três corações que foi comprado por uma multi de israel. o resto tá valendo
gostei das sutilezas, grande beijo.
oi seu moço
gostei
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