domingo, agosto 23, 2009

Da série: brincando com tatu


Uma vez meu pai me apontou um anu preto e falou: não da pra acertar esse passarinho, ou você erra ou o estilingue arrebenta. Um dia um anu pousou no pé de Santa Bárbara na frente de minha casa, eu olhei, mirei displicentemente e disparei: certeiro. O negro anu caiu na minha frente, debatia-se no chão agonizando. Corri pra dentro de casa, peguei um saquinho, desses de mercado, embrulhei o anu e o escondi embaixo de minha camiseta, como se ocultasse um cadáver, peguei minha bicicleta e com pernas trêmulas fui o mais longe que consegui. Pressionava o pássaro contra meu estômago, e sentia em minhas entranhas o bicho se mexer. Antes de lança-lo no mato tentei quebrar seu pescoço e acabar de vez com nosso sofrimento, não consegui. Ao virar as costas e ir embora ainda olhei e vi o saco se mexendo no mato. Matei meu primeiro mito aos 12 anos. A angústia não.

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