Na janela do prédio em frente a minha tem um moço, com semblante um tanto quanto preocupado, que fica a teclar no escuro, fico tentando ouvir os sons das teclas pra ver se adivinho o que escreve, mas consigo não. Será que ele fala de delicadezas, será que trata de ciência, não posso saber, mas queria, qualquer dia grito eu daqui: - ei moço sério, que tanto escreve ae entre as sombras dessa sala escura, por acaso trata você de delicadezas? Mas não tenho esses disparates, de falar assim, com quem não conheço, por vezes coloco uma de minhas saias bonitas, pois gosto muito de saias, tenho umas que, dizem, são antiquadas, acho que só falam isso pra não dizer que são bregas mesmo, mas são! Não me importo não, são é bem bonitas pra mim. Mas, como ia dizendo, coloco uma dessas minhas belas saias e fico lá em baixo pra quando ele passar eu perguntar sobre o que trata aqueles seus escritus, não me enganei não eu gosto de dizer escritus com “u” mesmo. Uma certa vez eu fiquei lá, e ele passou, me gelou o estomago, quase falei, mas não pude, ai que raiva, não consegui. Então subi novamente e fiquei la na minha janela, e ele estava la com aquela cara preocupada, as vezes um quase sorriso, e eu tentando adivinhar, já vi umas vezes ele bebendo e escrevendo, ae me pergunto, será que trata ele de coisas sérias mesmo quando bebendo, não sei, pode ser, tem gente que faz isso, eu não consigo, pensar em seriedade enquanto beberico algo qualquer, mas ele talvez, tem jeito de quem faz isso, do que será que ele trata, queria tanto saber, será que ele é daqueles que escrevem coisas de literatura, olha só, pode ser, talvez trate de angústias, de tristezas, porque tem uns dias que ele ouve música um pouco alto e eu quase consigo ouvir, ouço la bem longe, e muitas dessas vezes são essas músicas bem tristes, da pra notar, e ele desanda a escrever, com música triste deve escrever coisas tristes também, porque quando eu fico a ouvir essas músicas me da um tristeza de quase chorar, confesso que as vezes até uma lágrima me escapa, porque de coisas sérias não se escreve enquanto ouve música triste e em volume tão alto, ah, não sei não talvez até de né, tem cada tipo por ae, mas qualquer dia desses eu coloco uma das mais belas saias que tenho e vou lá bater em sua porta só para perguntar do que tratam seu escritus.
quinta-feira, abril 27, 2006
vermelho.
quarta-feira, abril 12, 2006
vírgula.

um cigarro e uma coca-cola, uma música e cinco minutos meu bem, o corpo que balança, os pensamentos que brincam com a fumaça, é só isso que eu te peço baby, cinco minutos pra eu me divertir com coca-cola e cigarro, só um tempinho sem ciência, sem amor, só eu, meu egoísmo, cigarro e coca-cola, só cinco minutos dançando sózinho, sem chorar, sem rir, vivendo assim, só pra mim, em torno do nada. eu gosto de cigarro, eu gosto de coca-cola, eu gosto de ti meu bem, mas as vezes eu preciso só disso: cinco minutos só pra mim, um cigarro e uma coca-cola.
sexta-feira, abril 07, 2006
angústia
Volta sentir aquele aperto no peito e aquele nó na garganta, mais uma lágrima se espreme no canto do olho, respira fundo e os pêlos dos braços arrepiam, é a sua antiga companheira Dona Tristeza que vem lhe visitar, agora acompanhada da já crescida Angústia, que até então brincava em suas entranhas como uma criança arteira. Como cresceu! Já é moça e fala de assuntos sérios, trata de compromissos e responsabilidades, mas que maturidade estranha, aquele moço que se pensava sério e já nem tão jovem se percebe um moleque, Angústia, mais que moça, é mulher e ele ainda tem em sua face pequenas espinhas entre a barba mal formada.
Quer chorar, quer colo e, ao mesmo tempo, parece cansar de sua boca salgar por lágrimas que insistem
Ele anda pelo apartamento tentando se esquivar e começa a tratar de se distrair com outros pensamentos, pensa em dar uma volta pela rua mas logo desiste, se joga no colchão no chão do quarto, mas Angústia se deita ao seu lado, lhe faz carinhos e lhe seduz, e cançado de lutar ele se entrega, e eles ficam a se amar por toda a noite. Com o dia ela foi embora, mas sua lembraça permanece e quase nunca lhe deixa.
quarta-feira, abril 05, 2006
não, vida real não.
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terça-feira, abril 04, 2006
um moço um tanto quanto sério
segunda-feira, abril 03, 2006
Domingo
Ele sai a caminhar, cada gota lhe torna mais humano, desliza pelo cabelo, pela face e ele sente o úmido, o frio, o viver só entre o chão de pedras e paredes coloridas, sente o silêncio atrapalhado pelo o alarme que dispara, sente o corpo do homem que fede abaixo de uma marquise, sente a crença da velha solitária, que como ele, anda sem rumo, sente a vida que pulsa sonolenta em cada apartamento e se vê diante das grandes torres que o olham de cima num tom austero, quase se benze num reflexo de cristandade remota, olha para o décimo primeiro andar do prédio ao lado e as luzes apagadas anunciam os próximos momentos de vazio.
Sem acender a luz se dirige à janela, quando aberta, permite ao vento um circular vagaroso pela sala, a fumaça do cigarro, que começa a ser consumido pela brasa, dança em par com a brisa, lá embaixo a água faz do asfalto um negro brilhante, lá de cima as torres já não são tão imponentes e o último cigarro do maço se vai junto ao último minuto do domingo.