sexta-feira, abril 07, 2006

angústia

Volta sentir aquele aperto no peito e aquele nó na garganta, mais uma lágrima se espreme no canto do olho, respira fundo e os pêlos dos braços arrepiam, é a sua antiga companheira Dona Tristeza que vem lhe visitar, agora acompanhada da já crescida Angústia, que até então brincava em suas entranhas como uma criança arteira. Como cresceu! Já é moça e fala de assuntos sérios, trata de compromissos e responsabilidades, mas que maturidade estranha, aquele moço que se pensava sério e já nem tão jovem se percebe um moleque, Angústia, mais que moça, é mulher e ele ainda tem em sua face pequenas espinhas entre a barba mal formada.
Quer chorar, quer colo e, ao mesmo tempo, parece cansar de sua boca salgar por lágrimas que insistem em rolar. Pára na sala escura, o silêncio lhe toma por inteiro, permanece por eternos instantes a olhar através do vidro, como se tentasse ver a si mesmo no reflexo mal formado, obscuros pensamentos, fracos devaneios, Angústia lhe traz momentos de tensão, de impaciência, de importâncias, lhe dá medo, lhe mostra dores até então desconhecidas. Tornou-se uma mulher insensível essa Angústia, Dona Tristeza é uma senhora de classe que sabe dizer um não com carinho, ela lhe machuca e você quase agradece, mas essa Angústia não tem a mesma classe nos modos de ser, ela tem se mostrado importuna, vai se encostando arrogantemente, passando por cima de todos não sei porque Dona tristeza anda trocando figurinhas com essa malvada, ele preferia quando Dona vinha acompanhada da Madrugada, e ficavam a ouvir sambas de histórtias de sofrimentos, Angústia não da espaço nem para música, ela é de um egoísmo ímpar.
Ele anda pelo apartamento tentando se esquivar e começa a tratar de se distrair com outros pensamentos, pensa em dar uma volta pela rua mas logo desiste, se joga no colchão no chão do quarto, mas Angústia se deita ao seu lado, lhe faz carinhos e lhe seduz, e cançado de lutar ele se entrega, e eles ficam a se amar por toda a noite. Com o dia ela foi embora, mas sua lembraça permanece e quase nunca lhe deixa.

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