para paula hemm: para ti tiro meu chapéu, quer dizer, tiro meus sapatos.
Sempre compreendo o que faço depois que já fiz.
O que sempre faço nem seja uma aplicação de
estudos. É sempre uma descoberta. Não é nada
procurado. É achado mesmo. Como se andasse num
brejo e desse sapo. Acho que é defeito de
nascença isso. Igual como a gente nascesse de
quatro olhares ou de quatro orelhas. Um dia tentei
desenhar as formas da Manhã sem lápis. Já pensou?
Por primeiro havia que humanizar a Manhã.
Torná-la biológica. Fazê-la mulher. Antesmente
eu tentara coisificar as pessoas e humanizar as
coisas. Porém humanizar o tempo! Uma parte do
tempo? Era dose. Entretanto eu tentei. Pintei sem
lápis a Manhã de pernas abertas para o Sol. A
manhã era mulher e estava de pernas abertas para
o sol. Na ocasião eu aprendera em Vieira (Padre
Antônio, 1964, Lisboa) eu aprendera que as
imagens pintadas com palavras eram para se ver de
ouvir. Então seria o caso de ouvir a frase pra
se enxergar a Manhã de pernas abertas? Estava
humanizada essa beleza de tempo. E como os seus
passarinhos, e as águas e o Sol a fecundar o
trecho. Arrisquei fazer isso com a Manhã, na cega.
Depois que meu avô me ensinou que eu pintara a
imagem erótica da Manhã. Isso fora.
Manuel de Barros
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Um comentário:
Meu Deus do Céu, é o Manoel! Você sabe, cortei o cabelo (sem trocadilhos!) por causa dele.. Queria muito novas pirações, outras conspirações. Aí li:
"Prefiro as linhas tortas, como Deus. Em menino eu sonhava em ter uma perna mais curta (Só pra poder andar torto). Eu via o velho farmacêutico de tarde, a subir a ladeira do beco, torto e deserto... toc ploc toc ploc. Ele era um destaque."
Confesso, queria ser um destaque, um Mané de destaque: apreender a atrapalhar as significâncias, a delirar os verbos, a obter sabedoria vegetal, etc, etc. Afinal também tenho cacote para vadio, também sou formado em desencontros (Cf Pansica 2006, "Entre o pedra de gelo e o copo..." - hehehe, minha primeira publicação!)
Mas foi uma alegria encontrar aqui o Manoel: li, reli, trêsli, e ainda agora... O sorriso não cabe em minha boca, e quando ele diz: "Só as coisas rasteiras me celestam".
Meu Deus do Céu, é o Manoel! Meu Mané do chão, é o Ele mesmo!
Amém
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