Um desses dias cinzas, de fina garoa, de cafés e cigarros, de uma simples felicidade de tristeza como pano de fundo, de respiração difícil e de um quase mal estar, estranhamente cômodo e agradável. Agora já se faz noite, e as luzes das casas na paisagem de morros deixa colorida essa escuridão de lua escondida e vento frio a balançar a cortina. Pela janela assiste ao vazio das ruas, escuta o silêncio da catedral e o não chamado de Deus, que mora ali, ao lado da casa dele, mas deve ser surdo.
Resolve sair assim, de pijama mesmo, só para comprar cigarros. Ele sempre pensa na frase: - saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou, melhor colocar um sapato então, vai que nunca mais volta, então é melhor se arrumar um pouco né, vai que nunca mais volta, se é para ir, é melhor ir arrumadinho, então resolve cortar o cabelo, um costume seu, quando quer ficar arrumadinho, então acha mais conveniente fazer a barba e se perfumar, vai que nunca mais volta, é melhor ir arrumadinho.
Então quando esta bem alinhadinho, cabelo retocado e barba feita, cheirinho bom e sapatos, entra no elevador e se olha naqueles vários espelhos, sente-se bem e preparado para ir, mas ir assim sem nem um café, é melhor ver se consegue tomar um café antes, mas naquela hora vai ser difícil é o que pensa. Lembra da rodoviária, um bom lugar para tomar café e comprar cigarros no meio da madrugada. Será que é por isso que as pessoas vão comprar cigarros e nunca mais voltam, é né, melhor lugar para as três coisas é a rodoviária. Compra seu L&M, pede seu café e pensa que agora é o momento de acontecer a tal coisa, o que será que acontece às pessoas para irem e nunca mais voltarem, fica la sentado e espera, olha as pessoas que se aproximam dele, é agora pensa ele, vai sussurrar algo no meu ouvido e eu vou e nunca mais volto. Uma mulher bastante velha com dificuldade de andar se aproxima dele, vem em sua direção com o olhar fixo. É agora! Ele pensa, finalmente vou descobrir. - Me da um cigarro filho. – Nossa, e agora ela vai ma falar algo. Obrigada, Deus lhe abençoe. Ah, que decepção quando ela se vai lentamente, jogando fumaça ao ar.
Pede outro café, e espera que alguém se aproxime e lhe diga algo que o faça ir, e espera, esperou por trinta anos e ninguém nunca lhe disse nada.
Um comentário:
Ei cabelo, que engraçado isso!Como diria o Manuel de Barros aí de baixo, " a poesia é uma graça verbal".
Beijinhos
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