E aquele aperto no peito que ela sentia parecia nunca mais ter fim, anda pelo apartamento do oitavo andar, pega o telefone disca os números, automatizada. Atende! Atende viado! O telefone toca do outro lado da linha, chama, chama...deixa pra lá. Preciso me depilar, pensa em voz alta. Volta para o sofá, liga o som, cat power, não aí é pra morrer, liga a tv, Fátima Bernardes falando do criança esperança, isso sim que é pra morrer, desliga. Fica no silêncio, as luzes apagadas. Adoro aquele velho sapato, bem que ele podia aparecer! Da cozinha vinha aquele insistente som daquela infernal goteira, vai até a torneira, antes de apertá-la, observa o pingo produzindo ondas no copo transbordando aquela água misturada a restos oleosos, fecha com força e a goteira jaz.
Vai até o banheiro, começa a se despir, se olha no espelho, cutuca um ser qualquer que brota em sua face, abre o chuveiro, espera um pouco a água aquecer, olha para o ralo e vê os instantes se perderem em um abismo-tubulado, entra em baixo das milhares de gotas que lhe umedecem a pele, os cabelos vermelho-desbotado, vira o rosto em direção à ducha, sem ar se vira, no terceiro toque ela escuta o interfone, corre pelo apartamento, nua, meio que escorregando, atende ofegante, oi! Ah, sobe aí.
- oi.
- oi, entra.
- como ta?
- indo, e você?
- to bem! Vim vê se você ta precisando de alguma coisa, você não tem ido na aula.
Que saco, pra que que existe telefone, e o que que esse cara tem a vê, se eu vo ou não naquela porra de aula.
- não to precisando de nada não!
- ah, sei, se ta doente?
- não!
- que legal a vista daqui né!
Ele vai em direção à sacada. Que saco esse cara deve ta querendo me chaveca, idiota! Nunca veio aqui, nem gosto dele, boy babaca, e agora essa história de sacada, tomara que caia! Ela vai junto, os dois param por um instante.
- então acho que eu vo dormir, amanha se eu for na aula agente se fala.
- vê se aparece, vai acaba estorando...
- então tá, até amanha.
Fecha a porta mesmo antes da resposta. Idiota! Apaga as luzes vai para o quarto, deita no escuro, e fica imaginando o quanto seria bom se aqueles velhos sapatos voltassem a dormir embaixo de sua cama.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário