sexta-feira, dezembro 08, 2006
o moço e a fumaça (e um pouquinho mais)
Décimo primeiro andar provoca isso no moço: ver as coisas como os postes vêm. Provoca iluminura nas coisas e nas pessoas, nos cachorrinhos também. Deixa o moço longe pra ver mais de perto certas pequenezas, o humor daquele moço fica mais leve, não há mais belezura ou feieza do alto do décimo primeiro andar.
Parece muito só, ambos o são: tanto o moço quanto o poste. O poste que tem por companhia os insetos em frenesi flertando com sua luz; e o moço, que se distrai com o brincar da fumaça e troca carícias com a solidão. A lua não, essa tem muitas companhias, o mar é a maior. Ah, mas o céu também não é muito pequeno.
O moço vive a ensaiar descer lá na rua e encontrar com essas pessoas que todos os dias ele observa do alto de seu cansaço. Ele: não velho e nem tão jovem, magro de tez clara, quase muito branca de tanta falta de sol. Só não é mais clara sua pele porque gosta de antes de dormir, depois de acompanhar a rotina do poste durante a madrugada, deitar um pouquinho em sua cama com a persiana aberta e ficar a banhar-se pelo amanhecer.
Seus dias e noites, do poste e do moço, são muito regulares durante a semana: ao amanhecer descansam, no correr das tardes ficam meio que incomodados com o transitar muito intenso de pessoas e carros. O mais incomodado é o poste, além de mais perto de toda a confusão, perde toda sua importância e fica só com o peso de sustentar os fios a querer dobrar suas costas magras. Quando vai ficando de noitinha começam a se animar com a idéia de movimento mais vagaroso e com a noite e as sombras a tomar os lugares. O poste vai se tornar importante com sua iluminura, o moço feliz com seu silêncio. É quando ele, o moço mesmo, coloca músicas de cultivar tristezas em sua antiga vitrola, ele as vezes deixa o volume alto para compartilhar com o poste, mas como o vizinho escuta muito mais que o poste ele tem que deixar só o tempo de poucos acordes.
Mas tem um porém, o moço tem um certo defeito de nascença que começa a lhe tomar os momentos, lhe falta a memória para coisas que ninguém esquece. A primeira das coisas que começam a lhe perder do pensar são as cores, para o poste não, porque ele provoca um certo amarelar em tudo que lhe passa por sob os pés. Mas o moço não da muito atenção a isso, ele agora inventa imagens de cores, é mesmo, ele chama vermelho de cinza com mais luz que preto e menos que branco - eu sei que não faz muito sentido (mas só para quem já sabe o nome das cores das coisas. Mas quem inventou o nome das cores?) - não sei que tipo de invenção ele encontra para o verde das árvores que vê ao longe, acho que ele chama de cor de luar sobre folhas, mas quando a lua muda de lugar e faz menos alarde sobre as coisas o nome não muda não. De dia ele brinca de esquecer os nomes das cores que inventou só para ficar imaginando de que cores se tratam as coisas.
Certa noite resolveu descer e ver o poste de baixo para cima, já fazia muito tempo que não saia de casa para nada. Tinha um trato com o vizinho e esse fazia as compras de mercado, pedia que comprasse geléia e conhaque. Aprendeu cedo a beber de conhaque, porque seu pai, muito velho já dizia para ele, muito moço, que aquilo era bom para garganta, que era remédio para solidão também. Bem que tem gosto de remédio, pensou da primeira vez que bebeu e que também foi uma das últimas vezes que saiu de casa, era por ocasião do enterro de seu pai, que já havia enterrado sua mãe. Daí ficou sozinho o moço. Os vizinhos ficaram muito preocupados, mas já era maior o moço, não podiam fazer nada. Foi quando fez de seu amigo o poste, não que não tivesse amigos outros mas é que não lhe era muito familiar as preocupações dos seus.
Seus pais não eram pobres não, o que lhe permite viver assim sem precisar de sair para ganhar o pão. Então pede pro vizinho comprar. O vizinho que já é velhinho e não tem muitas outras preocupação fica até com uma certa satisfação em fazer essas ajudas apesar de preocupado. Vive falando pro moço que ele devia sair pra se divertir e encontrar com outros de sua idade, da idéia de que ele devia ir em um baile qualquer e tirar uma moça para dançar, ao que o moço responde: quero não.
Ah! Já ia me esquecendo, também não lhe pode faltar cigarro, não que seu pai fumasse, fazia isso não. Ele começou a ficar intrigado foi com a fumaça quando viu uma moça que parou na esquina em baixo da sua janela. Não era bem uma mocinha, já era de certa idade, e apesar de ser noite usava um chapéu de grandes abas, ele só conseguia ver uma pontinha do queixo da tal dama, quando tragava seu cigarro e levantava levemente a face, meio de lado, então lhe escapava um pouco do queixo e dos lábios a prender o cigarro que logo a mão lhe tomava de volta. Já criou mil faces para aquela formosa moça, criou também uma dezena de olhares, o que ele mais gosta é um olhar que mira para brasa do cigarro. Ele fica a tragar e tentar olhar para o espelho pra ver como é que fica um olhar que mira para a ponta do cigarro, claro que não consegue, porque quando olha para o espelho desmancha o teatro, mas de qualquer forma ele imagina um olhar meio estrábico a fitar a brasa. A mulher terminou seu cigarro, pisou com a ponta de seu salto e saiu a caminhar com seu chapéu de largas abas e seu longo vestido a varrer o chão. Foi uma das mais belas cenas que ele e o poste já presenciaram.
No meio de uma noite, quando já se fazia sentir o inverno o moço resolveu descer e ver o poste de baixo, encostar-se na parede da catedral e tragar calmamente de seu cigarro. Demorou muito para escolher o melhor traje, tem muitas roupas. Sempre pede para seu vizinho que lhe compre alguma, não sabe bem porque faz isso, pois realmente nunca pensou em sair, deve de ser para ter novidades. O senhor com toda sua boa vontade escolhe as melhores peças, só que o olhar do senhor não acompanhou muito bem os rumos dessa moda moderna, então ele acaba por compra peças que já não usam os jovens. O moço sabe muito bem disso, já que sempre vê esses tipos a caminhar pela rua e da pra perceber, apesar da altura toda, como se vestem. Só que por achar engraçadas as roupas que lhe chegam acaba por ficar satisfeito, além disso, nunca pensou em sair mesmo. Mas agora era diferente, ia descer.
Um tênis ele tinha entre alguns sapatos e, é claro, todos impecavelmente limpos e novos, dava para sentir aquele cheiro de calçado novo em todos, também estavam eles todos em suas respectivas caixas e enrolados em papel de ceda. Escolhe o tênis, sabe que é o mais apropriado. Calça jeans também tem mas prefere as sociais, é por gosto próprio mesmo, sempre achou mais elegante. Quando se viu diante daquela variedade de calças e camisas ficou confuso, pois andava meio atrapalhado com as cores, não queria estar mal vestido naquele dia tão singular, acabou por fazer boas escolhas: calça cinza bem alinhada ao corpo, camisa pólo de listas vermelhas e verdes, e suspensório preto. O suspensório pegou das coisas do pai, sempre achou muito divertido quando o pai usava esses adornos, como os chapéus também, preza por essas lembranças.
Nessa noite o poste estava orgulhoso, o amarelado brilho no negro asfalto molhado pela chuva falava de sua importância. As nuvens escondiam o luar e ele protagonizava a cena noturna. Na altura da cabeça de seu longo corpo magro, marcava os limites entre a luz e a sombra. Certas janelas da parede da velha catedral tem a sorte de ficar sob seu olhar iluminado, há aquelas que se perdem nas sombras acima do poste. Nessas noites, parece que o poste abre os braços. Um pomposo jogo se faz entre as sombras e as luzes, cada qual embeleza a outra e ficam a se tocar todo o tempo.
O moço observa a fumaça vinda do cigarro à sua mão e da a ela qualidade de sombra e claridade dançando, os olhos ardem e uma lágrima corre até salgar a boca. A fumaça se desmancha no ar, mas a boca continua a salgar e o moço não sabe mais porque essas lágrimas lhe umidecem a face. Um sentimento lhe toma, uma falta de ninguém, ou de alguém, pensa nos amores que nunca viveu mas não sabe como é o amar, não sabe o que é um corpo a se encostar no seu, mas sente, sente como ninguém uma silhueta e um peso, o peso de um corpo começa a lhe faltar.
Quando se da conta, ao estancar a última lágrima nas costas da mão o sol já se faz presente suas pálpebras tornam-se irritantemente pesadas e vai se encostando na cama e vagarosamente se deita, logo o amanhecer começa a lhe lamber o corpo e o moço adormece em gozo. Uma febre estranha o acompanha durante o sono, sonhos e silhuetas se misturam com o suor a molhar o lençol, acorda assustado e ao levantar cai e abre o supercílio ao bater na parede, levanta-se novamente e sente o vermelho quente do sangue a escorrer pela face, confuso e de pernas bambas consegue chegar até o banheiro. Todo seu traje, cuidadosamente escolhido, vai sendo abandonado sem a menor atenção pelo chão do banheiro, abre o chuveiro e fica por horas caído no chão da banheira branca, que já se faz meio rosada pelo sangue que junto à água se vai pelo ralo.
Começa a recobrar os sentidos, o sangue já estancou ficando só uma pequena dor na cabeça, enfraquecido leva um certo tempo para levantar-se e percebe que ficou um rastro vermelho pelo banheiro, por suas roupas e pelas paredes da casa. Caminha até a cozinha e senta-se nu ao pé da geladeira aberta. Ali parado, olhando para o azulejo azul da cozinha sente um nó a lhe engasgar, alcança a garrafa de água e da um longo gole, um vazio consome cada pedaço de se ser, de sua carne, e a solidão sempre companheira e amiga começa a se misturar com uma dor azeda. O estomago embrulhado, o azedume lhe sobe até a boca vindo do fundo de suas entranhas, com o amargo na boca ele se levanta e procura alcançar a janela, as coisas todas muito embaralhadas, sente a falta do chão a cada vagaroso passo, antes da janela encontra sua cama e desmaia. Quando acorda, sem saber direito onde esta percebe já se faz noite.
Olha para o teto, senta-se na cama, o corpo parece não acompanhar muito bem suas vontades, alcança a janela e lá embaixo o poste continua a iluminar as coisas, o moço não percebe mas lhe falta a memória para as palavras, sente-se bem ali no alto do décimo primeiro andar mas não sabe muito bem porque, olha para as coisas com um ar interrogativo. Vira-se para o interior do quarto e alcança o interruptor, acende a luz e vê traços de sangue, mesmo sem saber que aquilo era sangue, vai até o banheiro e vê roupas manchadas e jogadas e não sabe direito o que aconteceu por ali, se olha no espelho e percebe um corte no olho inchado e começa a entender que deve ter sofrido um acidente mas não se lembra. Vai até o armário e pega algumas roupas ao léu, acha que tinha alguma coisa para fazer mas não sabe bem o que, veste-se caminha até a porta da duas voltas na chave e se vê diante do corredor escuro, sai, as luzes se acendem, outras duas voltas na chave só que agora ao lado de fora, chama o elevador.
(...)
POR: Marlon Tomazela Baptista.
quarta-feira, novembro 15, 2006
terça-feira, novembro 14, 2006
sexta-feira, outubro 27, 2006
Anônimo disse...
Quanto tempo sobra para partir a alegria? "Hein?"
Bons. Tempos. Quantos. Poxa, já nem me esqueço mais.
(Ou - O quão será elástica uma tristeza? Ela puxando prum lado e eu pro outro - "e nunca arrebenta!" -, ou será que não?)
Ok. Mas então, você ainda está cavando esse buraco... pra quê? "Para si interrar, pra si interrogar". Dúvidas, duvida? Como deita o ditado: se alguma coisa não tem fim (?), a outra sim (!)
Ah, já chega né?! De senso comum e mesmice bastam as boas aulas de antropologia... Vamos para a terceira margem ("é bom virar essa canoa, senão lá não se chega hein!"). Vamos conjugar o verbo na quarta pessoa do plural ("no começo era o delírio do verbo...")
_ _ _ _ _
"Mas hein? Tá bom, deixo a última, sinceríssima: O bar do Gerson não é mais o mesmo sem vocês! Aí, viver só, olhando pro mar"
quarta-feira, outubro 25, 2006
quinta-feira, outubro 19, 2006
não faça assim
Não faça assim, não! Não me tire para bailar, não me sussurre aquela canção, não, não me fale de tempos outros, quando entrelaçávamos nossas mãos, não, não faça assim não, não encoste esse seu rosto em meu colo, não, não me tire para dançar, não me lembre daquela canção, não, não pense bem de mim, não me trate assim com tanta consideração, não, não faça de mim parte de ti, não, não me chame de amor, não, não toque seus lábios em minha face, não, não me marque com aquele batom, não, não me tire para dançar, não, não me fale de tempos outros, não, não toque meu braço, não, por favor, não me fale de nossas lágrimas e daquele cinema, não, não diga que ainda somos como naqueles tempos, não, não me tire para dançar, não, não cante aquela canção, não, não me lembre daquelas meias coloridas, não, não chegue tão perto, não, não me levante do chão, não, não me tire o copo da mão, não, não me tire para dançar, muito menos me cante aquela canção.
pensava em corações partidos aquele moço
Pensava em corações partidos aquele moço, olhava para o seu cinzeiro e via ali suas angústias amontoadas a transbordar, devorava os conteúdos dos copos e taças, devorava suas emoções, devorava corações como um cão faminto a saborear carne crua. Ouvia a brasa queimar e apagava o cigarro em sua pele, marcava sua pele e alma e se contorcia em gozo e desespero.
Olhava a calçada, lá do alto do décimo primeiro andar, e imaginava seus órgãos a se espalhar entre as pernas dos transeuntes, pensava na banheira cheia a rosear a partir do sangue de seus pulsos, pensava nas pombas da praça a lhe devorar os olhos castanhos enquanto se masturbava, aquele moço, de face tão tranqüila, pensava em riscar suas pernas com a ponta da faca mais reluzente que encontrara e em seguida cravar a mesma entre os dedos do pé esquerdo.
Pensava em delicadezas aquele moço, pensava em abraçar aquela pequena senhora que anda tranquilamente lá embaixo dos onze andares, pensava em mandar flores a seus amigos, pensava em beijinhos estalados na face de sua garota, pensava em gentilezas com estranhos, em ceder o lugar no ônibus para aquela mocinha que se espremia entre os trabalhadores suados, penava em compra uma marmita para aquele senhor que baba na calçada lá embaixo.
Ainda pensava em delicadezas e gentilezas quando finalmente apertou o gatilho, mas já em nada pensava quando pedaços de sua massa craniana respingavam pelas faces dos pedestres que olhavam para o alto décimo primeiro andar curiosos com aquele estrondo.
quarta-feira, outubro 18, 2006
alguém me mandou esse texto, por enquanto de autoria anonima, vejam ae o que voces acham...
Há muito tempo ela fazia aquele caminho de volta pra casa. Desde que sua mãezinha (que Deus a tenha!) era viva. Agora estava só, havia alguns anos, na velha casa. Filha única e solteirona, costurava para fora, para algumas velhinhas do bairro, conhecidas de longa data, aquelas que ainda compram tecidos e mandam fazer suas roupas. E aos domingos, era à missa que aquela balzaquiana ia, com passos apressados, bíblia embaixo do braço e coque bem feito preso com grampos e lenço. Não era feia mas não chegava a ser bela. Pode-se dizer que as roupas não lhe ajudavam na aparência, sempre de cores sóbrias e tecidos grossos.
Há alguns meses tivera que mudar o trecho percorrido de volta pra casa. Como freqüentara a missa das sete, saía da paróquia já de noitinha e sentia medo ao passar por uma antiga construção abandonada em que alguns mendigos passaram a morar. Nunca se sabe né, esses homens sujos, bêbados, devem ser uns tarados, pensava ela. E a fim de preservar sua integridade física e moral, a jovem senhora andara duas quadras a mais, contornando uma praça para chegar até sua casa.
Na rua íngrime em que subia para ter acesso à praça havia um luxuoso edifício, de grades altas e jardim bem cuidado. Bem próximo à calçada havia uma guarita, mas o vigia do prédio nunca estava lá dentro e sim de pé encostado ao portão, rádio ligado e cigarro entre os dedos. Era um senhor, de cabelos quase todos brancos, bigode espesso e pele morena. Devia ter uns cinqüenta anos. E todos os domingos, assim que ela virava a esquina, ele estava lá, como a lhe esperar. Nunca ousara olhá-lo diretamente, só rapidamente antes de chegar em frente ao prédio. Mas suas mãos suavam friamente, seus pés tremiam em cima do salto impedindo seus passos de se apressarem.
O homem ficava a lhe fitar intensamente e as luzes do edifício pareciam fazer piscar o perfil daquela mulher, num jogo de claro e escuro entre as sombras das grades que corriam por seus olhos. Numa noite de domingo, em que alguns chuviscos caíam sobre a cidadezinha, lá estava ele a esperá-la. Logo pensou que ela viria com uma sombrinha e que não lhe daria chances de descobrir nem um pouquinho mais daquele rosto misterioso. Ela surgiu na esquina, somente a bíblia debaixo do braço. O corpo já estava molhado, os cabelos estavam soltos e ela vinha a passos mais lentos do que de costume. No pisca-pisca das grades, ele viu seus olhos a olhá-lo e um tímido sorriso no canto da boca se fez depressa. Ao se cruzarem em frente ao portão, ela sentiu além do cheiro da fumaça do cigarro, sentiu sua respiração.
Apressou-se novamente, com gana de estar em casa o mais rápido possível. Naquela noite, Alice não adormeceu no sofá em frente a tv e esqueceu-se engomar o saiote de Dona Idalina. Dormiu em sua cama, com as mãos a lhe acariciar os seios e as coxas, a passear por dentro da calcinha e a encharcar os lençóis.
vou comprar cigarros
com vontade de descrever coisas com ar de quem não as vê
de quem olha assim, meio de viés
meio de sentir dor em cada ruído
hoje eu queria sair e olhar nos olhos das pessoas nas ruas
e me ver em cada gesto de cada pensamento
queria sair hoje a ficar perambulando entre coisas
hoje queria ser poeta
queria ser atropelado só para ter uma história para contar
chega, queria assim, escrevendo bobagens sobre coisa alguma
vou comprar cigarros e ver se algo acontece
pena que vou voltar
sei que vou
e não vou ser atropelado
e não vou sair para beber e chutar o balde
não vou fazer nada hoje
vou só ficar andando pelo décimo primeiro andar
sem vontade de ....
então ta, vou la comprar cigarros
até mais.
um desses dias cinzas
Um desses dias cinzas, de fina garoa, de cafés e cigarros, de uma simples felicidade de tristeza como pano de fundo, de respiração difícil e de um quase mal estar, estranhamente cômodo e agradável. Agora já se faz noite, e as luzes das casas na paisagem de morros deixa colorida essa escuridão de lua escondida e vento frio a balançar a cortina. Pela janela assiste ao vazio das ruas, escuta o silêncio da catedral e o não chamado de Deus, que mora ali, ao lado da casa dele, mas deve ser surdo.
Resolve sair assim, de pijama mesmo, só para comprar cigarros. Ele sempre pensa na frase: - saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou, melhor colocar um sapato então, vai que nunca mais volta, então é melhor se arrumar um pouco né, vai que nunca mais volta, se é para ir, é melhor ir arrumadinho, então resolve cortar o cabelo, um costume seu, quando quer ficar arrumadinho, então acha mais conveniente fazer a barba e se perfumar, vai que nunca mais volta, é melhor ir arrumadinho.
Então quando esta bem alinhadinho, cabelo retocado e barba feita, cheirinho bom e sapatos, entra no elevador e se olha naqueles vários espelhos, sente-se bem e preparado para ir, mas ir assim sem nem um café, é melhor ver se consegue tomar um café antes, mas naquela hora vai ser difícil é o que pensa. Lembra da rodoviária, um bom lugar para tomar café e comprar cigarros no meio da madrugada. Será que é por isso que as pessoas vão comprar cigarros e nunca mais voltam, é né, melhor lugar para as três coisas é a rodoviária. Compra seu L&M, pede seu café e pensa que agora é o momento de acontecer a tal coisa, o que será que acontece às pessoas para irem e nunca mais voltarem, fica la sentado e espera, olha as pessoas que se aproximam dele, é agora pensa ele, vai sussurrar algo no meu ouvido e eu vou e nunca mais volto. Uma mulher bastante velha com dificuldade de andar se aproxima dele, vem em sua direção com o olhar fixo. É agora! Ele pensa, finalmente vou descobrir. - Me da um cigarro filho. – Nossa, e agora ela vai ma falar algo. Obrigada, Deus lhe abençoe. Ah, que decepção quando ela se vai lentamente, jogando fumaça ao ar.
Pede outro café, e espera que alguém se aproxime e lhe diga algo que o faça ir, e espera, esperou por trinta anos e ninguém nunca lhe disse nada.
terça-feira, outubro 17, 2006
pintura
Sempre compreendo o que faço depois que já fiz.
O que sempre faço nem seja uma aplicação de
estudos. É sempre uma descoberta. Não é nada
procurado. É achado mesmo. Como se andasse num
brejo e desse sapo. Acho que é defeito de
nascença isso. Igual como a gente nascesse de
quatro olhares ou de quatro orelhas. Um dia tentei
desenhar as formas da Manhã sem lápis. Já pensou?
Por primeiro havia que humanizar a Manhã.
Torná-la biológica. Fazê-la mulher. Antesmente
eu tentara coisificar as pessoas e humanizar as
coisas. Porém humanizar o tempo! Uma parte do
tempo? Era dose. Entretanto eu tentei. Pintei sem
lápis a Manhã de pernas abertas para o Sol. A
manhã era mulher e estava de pernas abertas para
o sol. Na ocasião eu aprendera em Vieira (Padre
Antônio, 1964, Lisboa) eu aprendera que as
imagens pintadas com palavras eram para se ver de
ouvir. Então seria o caso de ouvir a frase pra
se enxergar a Manhã de pernas abertas? Estava
humanizada essa beleza de tempo. E como os seus
passarinhos, e as águas e o Sol a fecundar o
trecho. Arrisquei fazer isso com a Manhã, na cega.
Depois que meu avô me ensinou que eu pintara a
imagem erótica da Manhã. Isso fora.
Manuel de Barros
sábado, outubro 07, 2006
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entre a pedra de gelo e o copo, ali, havia um caminho...
no meio do caminho havia uma pedra de gelo e um copo...
ali, a via, no caminho. e estava tão perto que já não era tão ali: podia passar meus dedos entre seus cabelos, podia deitar sua cabeça em meu colo, cafunés e confissões. então a pedra começou a derreter - era tempo de servir as duas doses, embriagar o copo, a pedra, e vice-versa, e adiante... nesse instante percebi ao fundo, era o chico: 'vai passar nessa avenida o samba popular...' Mas ninguém passou, ninguém sambou. O gelo derreteu e o copo voltou pro armário. Nem tudo acaba em pizza
uma mensagem de rafael pansica (fora de moda, e das festas... bom, mas o horóscopo já predestinava: 'falta fogo aí' hehehe)
abraço"
quarta-feira, outubro 04, 2006
brincadeira é coisa séria
Andava a chutar pedras quando criança, nas canelas finas, o roxo e os caroços das pancadas eram admirados e exibidos pelo menino que vivia a pular de telhados
Os grupos iam se formando, as rivalidades se estreitando, temporadas de rolemã, de pião, de pipa, de bolinha de gude, desafios entre os grupos das ruas. Estavam lá, sempre dispostos a desafios, aos contras, testando os limites, a coragem, a honra de si mesmo, da rua, do grupo. Conheciam cada palmo daquelas ruas, escalavam qualquer muro, qualquer telhado, exploravam cada possibilidade de se divertir. Seus corpos iam se construindo em cada tombo de laje, em cada corte em lanças de portão, em cada furo de pregos, em cada estilhaço de bombinhas, em cada queimadura de tochas de balão, em cada mordida de cachorro.
Seus gestos eram moldados pelos cumprimentos inventados, toques de mão que falavam dos estilos, do skate, do boy, do surf, do “normal”, do “noiaba”, as cores das roupas falavam dos anos noventa, as longas franjas, os cabelos compridos, cabelos tigela, inventavam grafias e queriam pichar, entravam nos ônibus e desciam pela porta traseira sem pagar, nos mercados começaram a roubar pequenos mimos pra brincar.
As primeiras mocinhas a beijar, a vergonha e a face a rubrar, as primeiras punhetas, os primeiros tragos e goles, os corpos começam a experimentar novos limites, continuam a querer brincar, nunca pararam de inventar, as aventuras são outras, não olham mais para o céu a procurar pipas que o vento esta a levar, procuram coisas outras pelas estrelas. Uns ficaram pelas ruas cinzas de São Paulo a experimentar velocidades com motores e não mais com bicicletas, outros vivem a trabalhar e a criar novas crianças, outros se aventuram por terras nordestinas, outros foram para o sul, e brincar de brincar com letras, todos levamos a sério a brincadeira de viver.
terça-feira, setembro 12, 2006
tetos brancos
Poderia dosar melhor as coisas o tal moço, vagar mais na tinta preta sobre o branco do papel, mas sei não, lhe encanta o lirismo desses tetos iluminados em longas noites de pálpebras pesadas.
Essa mania de se prometer vai pintando de branco certos fios negros de sua cabeça, logo seus dentes vão começar a amarelar de café e cigarros, suas costas vão envergar ainda mais, suas prateleiras vão ficar repletas de letras científicas e vai continuar a se prometer coisas outras, parece que o que afaga mesmo aquele moço, é a possibilidade de vagar por tetos brancos.
quinta-feira, julho 27, 2006
sexta-feira, julho 21, 2006
Nicotina.
domingo, julho 16, 2006
sem título.
alguém tem uma chave de boca ae?
pra ver se afrouxa.
Ou só a boca.
pode ser sem batom.
talvez seja melhor uma chave de fenda.
alguém tem?
ou só a fenda mesmo.
uma grande fenda
que nunca tenha fim
que se possa cair apenas,
pra ver se esse aperto cansa de mim.
cansado estou eu,
de mim
de apertos.
domingo, julho 09, 2006
requiém para uma época
Andava cada vez mais saudoso aquele moço. No fundo da xícara, já quase sem café, o reflexo dos seus olhos diz pra ele que é hora de voltar. O cinzeiro a transbordar angústias. Anda cansado das tais letras científicas aquele moço, não encontra nelas nada além de angústias outras. Pensa em voltar pra seu mundo aquele moço, para seu balcão amarelo. Essas músicas de cultivar tristezas lhe corroem as entranhas de tal modo que lágrimas não param mais de salgar seus lábios. O domingo é cinza para aquele moço, cinza e lento, escorre vagarosamente pelo vidro da janela do décimo primeiro andar. Não sabe bem aquele moço, passa longos momentos a olhar para o silencio das coisas e das ruas, a vida pulsa lenta em suas veias.
Entra no elevador e sua imagem se espalha pelos três lados espelhados, não se olha pelos longos onze andares, pela rua caminha a observar os pés aquele moço, como se os onze andares inteiros pesassem sobre seus ombros, não dedica seu olhar, nem às pessoas que cruzam seu caminho, nem às paredes que lhe apertam em ruas estreitas, anda a querer paisagens outras aquele moço, e anda a desejar pessoas de anteontem, das épocas de caminhadas entre lagos e morros do norte, da terra vermelha, do silêncio dividido com os latidos dos cães nas madrugadas frias regadas a conhaques e delírios, a paixões e putarias, anda saudoso aquele moço, quer falar mal de seu bar preferido de balcão amarelo, quer reclamar dos amores ao lado de Gertrudes acompanhados de cigarros e ypioca. Quer aquilo que nunca mais vai ter aquele moço.
Andava a pensar muito em tempos outros um tal moço, pensa em épocas que caminhava por vales floridos, quando pecava atrás de capelas, quando havia Ramones e coisas Desordeiras, aquele moço anda com saudade de quando ele era eles. Malandro é malandro e é mané aquele moço, mas não é o mané da ilha, é o mane da vila, dos lagos, dos bares, é mané do calçadão, das antigas.
Mas o que aquele moço sabe mesmo, e isso é que lhe aperta o estomago, é que o lago nunca mais será o mesmo, os bares estão a se desmontar e vão ficar lá no seu passado, o cinzeiro vai continuar transbordando tristezas e os amigos, onde quer que forem, estarão sempre lá, dispostos a conhaques, a choros e risos. O que aquele moço sabe é que seu lago será sempre o mesmo.
sexta-feira, julho 07, 2006
segunda-feira, julho 03, 2006
quero ser pobre a vida inteira.
só se for personagem mesmo, porque na película, ou nas letras, é romantico ser suvaquento, quando criança remelento, pegar a condução cinco da matina e bater cimento, quero ver se for pra valer, dia após dia. to tranquilo, quero é uisque mesmo, jazz em um lugar elegante, pois é, pequeno burguês mesmo, e daí.
segunda-feira, junho 26, 2006
cheiros e choros
Procura no fundo de copos vorazmente esvaziados algo de substância que ocupe o lugar daquelas palavras doces quase infantis, nas faces ao redor procura traços quase orientais, de olhos quase verdes quase castanhos. Quando quase bêbado se joga no colchão que quase perde o seu cheiro, que quase a torna presente, é quase capaz de ver aqueles olhos tão completos compostos por quases.
Tenta não se perder entre seus desejos e a apatia da tela da tv ou do teto, procura esquecer que existem copos para esquecer, desiste de procurar olhos assim, completos de quases, as lágrimas não vão parar, o cheiro do sexo vai passar, ficara o teto para olhar, ecos de palavras doces quase infantis de quem já tem filho pra criar, ficarão lágrimas lentas a brilhar em noites vazias de um mundinho cada vez mais indolor, incolor, sensato e comum.
O bichão bravo vai continuar a bater sobre as pedras sem ninguém a se encantar, os dias vão passar e o sorriso quase verdadeiro vai ter no fundo a tristeza do mal de lonjura, o doce amargo do café e o tabaco do cigarro do rock ajudam a levar a falta do bem querer (queridíssima), só mais umas, entre outras fugas quaisquer. Ficam os planos românticos do bar preferido e da cidade encantadora. Ficam a saudade e os olhos sempre úmidos.
Conto para dois, só para nós dois querida.
sábado, junho 03, 2006
estranho.

As
quinta-feira, junho 01, 2006
conversa com Gertrudes.
e como vão os amores Gertrudes?
Gertrudes da Silva diz:
ai elias
Gertrudes da Silva diz:
nem me fale
Gertrudes da Silva diz:
nem me lembre
Gertrudes da Silva diz:
das minhas desgraças
Gertrudes da Silva diz:
então
Gertrudes da Silva diz:
to afim de um menino q tem namorada
Gertrudes da Silva diz:
e não me qr
Gertrudes da Silva diz:
dai tem outro
Gertrudes da Silva diz:
bem cumprido,
Gertrudes da Silva diz:
bótemo
Gertrudes da Silva diz:
q sumiu
Gertrudes da Silva diz:
não me qr tb
Gertrudes da Silva diz:
e eu larguei da ypioca
Gertrudes da Silva diz:
o q siguinifica q estou muito a sofrer.
a dança.
Enquanto o primeiro acorde ainda ecoa pela sala quase iluminada ele a pega pela mão e a conduz até o centro e passa a mão, vagarosamente, pela sua cintura e a aperta contra seu corpo. Suavemente os corpos, ao balançarem, se encaixam. No primeiro giro os pulsos se confundem um no outro e os corações, acelerados, dançam sozinhos. Suas mãos escorregam pelas costas dela até alcançarem os braços que são levados ao pescoço dele, ela sente o cabelo dele entre seus dedos e, levemente, percorre sua nuca, orelha, face. Com seus lábios ele brinca entre o pescoço e a orelha dela, sua mão encontra o primeiro dos três laços que prendem a blusa da formosa dama, no segundo giro o primeiro laço é desfeito enquanto os corpos e o pulso, cada vez mais, se confundem. O terceiro giro, o segundo laço, e as unhas dela escorregam por suas costas por baixo da camisa listrada. Enquanto o último acorde de Time is on my side ainda ecoa pela sala quase iluminada, o terceiro laço é desfeito e os lábios quase se tocam, em uma crônica de um beijo anunciado.
terça-feira, maio 30, 2006
a não dança
a todos aqueles que um dia recusaram uma dança e deixaram uma mão qualquer estendida, e decepcionada, no ar...
É só uma dança meu bem, não pense mal de mim, não é só porque te quero assim, despedida da moral de meios e fins, que não posso querer você para bailar, corpos a girar porque o mundo está assim também querida, a rodar. Aos conhaques que brindamos, aos prazeres mundanos, aos meios por eles mesmos, à dança por ela mesma, à sensualidade por si só, mesmo eu, tão cientista e conservador, me dou ao direito de ser assim, por momentos a só me importar com os próprios. Ora querida, qual o problema de corpos a bailar por salas quase escuras, alienar-se dos sentimentos externos, do mundo inteiro, para ficar assim, a viver a dança nela mesma, por ela mesma, sem poréns, nem depois, tampouco antes, é só um momento que se deixou de viver se não bailou.
sábado, maio 27, 2006
cigarros, conhaque e amores.
sexta-feira, maio 12, 2006
dizem os ditos.
quinta-feira, maio 04, 2006
meio que sem querer
Troca beijos com a solidão e lhe sorri assim, meio sem querer, meio sem jeito de dizer: que só por ela é que crê
quinta-feira, abril 27, 2006
meu mais belo vestido brega
Na janela do prédio em frente a minha tem um moço, com semblante um tanto quanto preocupado, que fica a teclar no escuro, fico tentando ouvir os sons das teclas pra ver se adivinho o que escreve, mas consigo não. Será que ele fala de delicadezas, será que trata de ciência, não posso saber, mas queria, qualquer dia grito eu daqui: - ei moço sério, que tanto escreve ae entre as sombras dessa sala escura, por acaso trata você de delicadezas? Mas não tenho esses disparates, de falar assim, com quem não conheço, por vezes coloco uma de minhas saias bonitas, pois gosto muito de saias, tenho umas que, dizem, são antiquadas, acho que só falam isso pra não dizer que são bregas mesmo, mas são! Não me importo não, são é bem bonitas pra mim. Mas, como ia dizendo, coloco uma dessas minhas belas saias e fico lá em baixo pra quando ele passar eu perguntar sobre o que trata aqueles seus escritus, não me enganei não eu gosto de dizer escritus com “u” mesmo. Uma certa vez eu fiquei lá, e ele passou, me gelou o estomago, quase falei, mas não pude, ai que raiva, não consegui. Então subi novamente e fiquei la na minha janela, e ele estava la com aquela cara preocupada, as vezes um quase sorriso, e eu tentando adivinhar, já vi umas vezes ele bebendo e escrevendo, ae me pergunto, será que trata ele de coisas sérias mesmo quando bebendo, não sei, pode ser, tem gente que faz isso, eu não consigo, pensar em seriedade enquanto beberico algo qualquer, mas ele talvez, tem jeito de quem faz isso, do que será que ele trata, queria tanto saber, será que ele é daqueles que escrevem coisas de literatura, olha só, pode ser, talvez trate de angústias, de tristezas, porque tem uns dias que ele ouve música um pouco alto e eu quase consigo ouvir, ouço la bem longe, e muitas dessas vezes são essas músicas bem tristes, da pra notar, e ele desanda a escrever, com música triste deve escrever coisas tristes também, porque quando eu fico a ouvir essas músicas me da um tristeza de quase chorar, confesso que as vezes até uma lágrima me escapa, porque de coisas sérias não se escreve enquanto ouve música triste e em volume tão alto, ah, não sei não talvez até de né, tem cada tipo por ae, mas qualquer dia desses eu coloco uma das mais belas saias que tenho e vou lá bater em sua porta só para perguntar do que tratam seu escritus.
vermelho.
quarta-feira, abril 12, 2006
vírgula.

um cigarro e uma coca-cola, uma música e cinco minutos meu bem, o corpo que balança, os pensamentos que brincam com a fumaça, é só isso que eu te peço baby, cinco minutos pra eu me divertir com coca-cola e cigarro, só um tempinho sem ciência, sem amor, só eu, meu egoísmo, cigarro e coca-cola, só cinco minutos dançando sózinho, sem chorar, sem rir, vivendo assim, só pra mim, em torno do nada. eu gosto de cigarro, eu gosto de coca-cola, eu gosto de ti meu bem, mas as vezes eu preciso só disso: cinco minutos só pra mim, um cigarro e uma coca-cola.
sexta-feira, abril 07, 2006
angústia
Volta sentir aquele aperto no peito e aquele nó na garganta, mais uma lágrima se espreme no canto do olho, respira fundo e os pêlos dos braços arrepiam, é a sua antiga companheira Dona Tristeza que vem lhe visitar, agora acompanhada da já crescida Angústia, que até então brincava em suas entranhas como uma criança arteira. Como cresceu! Já é moça e fala de assuntos sérios, trata de compromissos e responsabilidades, mas que maturidade estranha, aquele moço que se pensava sério e já nem tão jovem se percebe um moleque, Angústia, mais que moça, é mulher e ele ainda tem em sua face pequenas espinhas entre a barba mal formada.
Quer chorar, quer colo e, ao mesmo tempo, parece cansar de sua boca salgar por lágrimas que insistem
Ele anda pelo apartamento tentando se esquivar e começa a tratar de se distrair com outros pensamentos, pensa em dar uma volta pela rua mas logo desiste, se joga no colchão no chão do quarto, mas Angústia se deita ao seu lado, lhe faz carinhos e lhe seduz, e cançado de lutar ele se entrega, e eles ficam a se amar por toda a noite. Com o dia ela foi embora, mas sua lembraça permanece e quase nunca lhe deixa.
quarta-feira, abril 05, 2006
não, vida real não.
Entra no
terça-feira, abril 04, 2006
um moço um tanto quanto sério
segunda-feira, abril 03, 2006
Domingo
Ele sai a caminhar, cada gota lhe torna mais humano, desliza pelo cabelo, pela face e ele sente o úmido, o frio, o viver só entre o chão de pedras e paredes coloridas, sente o silêncio atrapalhado pelo o alarme que dispara, sente o corpo do homem que fede abaixo de uma marquise, sente a crença da velha solitária, que como ele, anda sem rumo, sente a vida que pulsa sonolenta em cada apartamento e se vê diante das grandes torres que o olham de cima num tom austero, quase se benze num reflexo de cristandade remota, olha para o décimo primeiro andar do prédio ao lado e as luzes apagadas anunciam os próximos momentos de vazio.
Sem acender a luz se dirige à janela, quando aberta, permite ao vento um circular vagaroso pela sala, a fumaça do cigarro, que começa a ser consumido pela brasa, dança em par com a brisa, lá embaixo a água faz do asfalto um negro brilhante, lá de cima as torres já não são tão imponentes e o último cigarro do maço se vai junto ao último minuto do domingo.
domingo, abril 02, 2006
décimo primeiro andar
sábado, abril 01, 2006
dês-existir
quarta-feira, março 29, 2006
tango
Tem sido constante o tal nó a lhe sufocar os pensamentos e a garganta, lhe acompanha quando atravessa o mercado público pisando nos paralelepípedos como se fossem ovos, contempla a imponente construção e o confuso perambular de ninguéns comuns, entre cores e sons de vozes a comercializar bugigangas, entra pelas calçadas estreitas, espremidas pelas antigas construções de cores vibrantes e o tal nó lhe sufoca e espanta a primeira lágrima rapidamente absorvido pelo tecido verde de sua camisa.
No eterno subir do elevador por longos onze andares fica a flertar com sigo mesmo no espelho, moço vaidoso chega a achar interessante aquela face tristonha de olhos pequenos a apertar quase lágrimas, ao entrar as duas torres lhe saúdam e o tango toma conta do apartamento. Tango, entranhas, espasmos e a voz: “... vuelvo al sur, como se vuelve siempre ao amor, (...) vuelvo al sur, como un destino del corazón (...)”. E ele que foi ao sul se desmancha. E os onze andares sob os seus pés se desmancham e ele, estático, observa a poeira que levanta e cobre as duas torres a sua frente, ele, as torres, permanecem lá, imóveis enquanto o mundo cai ao redor, e o tango, cada vez mais alto, alimenta sua morte lenta.
segunda-feira, março 27, 2006
a chegada/a partida
Sentado na cama fica olhar para a parede azul de seu quarto, pensa que em breve será o azul do mar a lhe acompanhar o olhar perdido, as malas feitas se espalham pelo chão, o velho sentimento de que esqueceu algo, a hora do ônibus está próxima e o carro vai sendo ocupado por suas coisas.
Pela janela a paisagem tão comum vai correndo do seu olhar assim como uma lágrima corre pela sua face até salgar seus lábios, uma parada rápida na casa de seu bem e um beijo apressado pelo horário. Na rodoviária ele observa o vai e vem de ninguéns tão estranhamente comuns, malas e caixas etiquetadas, é hora da partida, ficam as histórias de amores, amigos e bares.
A angústia da saída da cidade tão pobremente triste lhe toma, ou seria a sua que lhe da esse ar tão pobre, noite adentro e o ônibus corta a escuridão rumo ao sul, rumo a uma ilha ensolarada, ele encosta a cabeça na janela e fica a olhar para o nada dividido pela estrada e dorme.
A chegada
A noite da lugar ao dia, a ilha esta perto, fica tentando imaginar o que vem pela frente, cria rostos e formas de pessoas e coisas, a expectativa, o medo e angústia,tudo que ele queria agora era acordar ao lado de seu bem, tomar um café e fumar um cigarro. Quarenta minutos de sonolência em uma poltrona de ônibus que vai de largar em sua nova vida, a entrada da cidade nova, tão pobre quanto a saída da cidade antiga, não fica triste nem contente, apenas ansioso por um café e um cigarro, a rodoviária enfim, para e pega a suas coisas segundo as suas etiquetas, encosta na lanchonete, e pede um café médio, puro, acende um cigarro e calmamente traga, é a chegada.
Floripa
A geografia.
Da janela de seu quarto é possível observar o mar a sua direita, mas não tem praia, é a beira-mar, é só asfalto e calçada, é o mar que está entre o continente e a ilha, na sua frente a catedral da cidade impõe, além dos cantos do horário de missa e de ensaios e sei lá do que, duas grandes torres de arquitetura gótica, o centro é repleto de prédios históricos, acho que cerca de duzentos anos, como em toda e qualquer cidade que se prese lhe cai um certo ar de decadência, um pouco mais ao longe tem um grande morro tomado por casas, pelo menos nesse morro me parece que as casas não são tão pobres, mas tudo indica que vai se chegar, e não tarda muito, a algo próximo ao Rio, que eu não conheço, falo pelo que vejo na TV. Aqui por perto tem alguns Cafés, o que me deixa feliz, um em particular me agrada mais, um prédinho de arquitetura antiga, pequeno, portas altas, mesinhas com mosaicos coloridos, e elas te oferecem cinzeiro, é ótimo quando você entra em um lugar e se sente a vontade pra fumar.
As gentes.
Isso é um pouco mais difícil, é pouco tempo pra perceber bem as coisas. Durante a semana chamada de útil, circula muita gente lá em baixo, moro no centro nervoso, mas bom mesmo é no fim de semana quando fica silencioso e deserto, especialmente aos domingos quando todos parecem ir pras praias, dizem que tem muitas por aqui. Os manézinhos-da-ilha, ou barriga verde, tem um sotaque engraçado, quando falam rápido parece dialeto, e são simpáticos também, mas eu não sei bem, vamos ver. Tenho pouco a dizer sobre as pessoas daqui.
A Antropologia.
Fiquei assustado com a carga de leituras, mas empolgado com as discussões em sala de aula, ainda foram poucas já deu pra sacar que vai ser bem massa, o programa é um dos melhores do Brasil, minha turma, ou meu grupo de pares, pra usar um termo acadêmico é bem legal e variado, tem gente de todo canto do Brasil, além das parceiras colombianas, as conversas de corredor e no café tem sido bem agradáveis, a primeira bebedeira com parte da turma foi bem divertida e só acabou com a vinda do sol, um bom sinal. São muitos projetos e muita expectativa do por vir. É isso.
Não pretendo transformar esse blog em um diário, é a primeira e última vez que faço isso aqui, mas senti essa necessidade. Um beijo aos amigos de Londrina, queridos e inesquecíveis, um beijo especial pra meu amor, sinto falta da geografia daí, mas principalmente das gentes daí, quanto a Antropologia daqui e os novos amigos que estou fazendo, ah, isso também parece que vai se tornar inesquecível.
pular?
domingo, março 26, 2006
quase voltando
terça-feira, janeiro 24, 2006
madrugada meu bem
Ah! Minha querida! Dei-te tanto de mim e agora você tem me maltratado tanto, me deixa assim a chorar pelos cantos, não me venha agora com samba canção que a tempos me deixa um vazio no peito, esse seu romantismo minha querida tem me feito melancólico, agora não me venha com pedidos de sorrisos, deixe-me aqui com Dona tristeza, essa sim tem sido companheira, de fumaça e de copo.
Você minha querida madrugada me conquistou com esse seu jeito boêmio, me levou a tantos sambas e cantava ao meu ouvido, brindamos muito eu sei, não desconsidero nossos dias de comunhão intima, tantas vezes colocou a lua lá só pra mim eu sei. Não! Claro que não desconsidero. Mas me abandonou e levou sua alegria, deve ter se cansado de mim, você nunca prometeu fidelidade eu sei, sempre deixou claro que era amante de muitos, até me disse que preferia os morros, que lá te respeitam, que prefere cachaça à uísque, eu sei.
Mas não entendo porque me deixou assim, deixou Dona me roubar de ti, pois agora meu bem é outro, temos sido amantes vorazes eu e Dona, ela chega de mansinho a acariciar meus pensamentos e logo vai tomando conta do meu todo, ela tem um gosto todo especial por lábios salgados e insiste em provocar lágrimas a escorregar até a boca.
Estou com medo minha querida madrugada, não consigo me livrar de Dona, você podia me convidar para um samba, me tire daqui minha querida, me leve para longe, temos que partir logo, acho que vou aceitar essa sua aliança antes que seja tarde, já sinto algo a apertar o peito, os pensamentos já estão tomados, é agora não há mais jeito, Dona já esta aqui a umedecer meus olhos, ai! Queria fugir contigo mas já sinto a boca salgar. Vá cuidar dos seus agora minha querida madrugada, que eu vou ficar com a outra a me embebedar.
sexta-feira, janeiro 20, 2006
mal de lonjura
quinta-feira, janeiro 19, 2006
são paulo acorda cedo

essa foto e texto foram roubados do http://fotolog.terra.com.br/elanajanela:5, acho que foi a coisa masi bonita que eu ja li sobre são paulo, achei lindo demais.
São Paulo acorda cedo. É uma mulher bem disposta, mas nervosa. Já de manhã, põe-se a gritar, insana que é. A manhã é, para ela, o pior momento do dia. É quando descobre que terá de viver consigo por muitas horas. São Paulo acorda cedo e com o coração acelerado. Ela tem ânsia de si. Mas São Paulo sabe ser doce. Provoca o riso nervoso dos homens que não sabem o que fazer diante da sua tentação poética, porque São Paulo é, antes de tudo, a verdade escancarada. Sonha fazer mistério, guardar segredos, mas a ânsia, enfim, não permite. São Paulo é uma mulher decidida. Sabe o que quer e, muito embora seja romântica, sabe-se desejada e, portanto, flerta. São Paulo investe: tem curvas perfeitas, bem definidas, os olhos acinzentados, as mãos pequenas e macias, a boca bem delineada, o corpo de lascívia e pureza, seu único enigma. São Paulo faz poesia e tem os cabelos descompromissados. Sabe que é rara, porque desordena, como poucas, a beleza. É uma mulher voluptuosa e delicada pela poesia. Conhece a arte do sorriso por sobre o ombro. Domina a conquista pela timidez, pela elegância das sutilezas. São Paulo é uma mulher que tem nos quadris o samba. Mete medo nos homens porque desperta a intensidade, com seu ar de doce novidade. São Paulo é dessas mulheres que seduzem pela discrição. Sente mais frio que as outras, mas guarda na pele a temperatura ideal. É delírio por debaixo da saia de menina assustada. São Paulo sofre. Observa o mundo como um bicho amedrontado. Mas, se começa a atravessar a rua com lágrimas nos olhos, do outro lado, já os têm secos. São Paulo esquece.
sempre acaba
o primeiro trago
traje de domingo
Arruma-se, sua melhor roupa, roupa de domingo é o que pensa, assim era quando ia à missa domingo pela manhã, quando criança sua felicidade era poder usar sua melhor roupa, aquela que nunca podia colocar para brincar, era permitida apenas para missas e festas, gostava de observar as pessoas pelo caminho da igreja, caminho feito a pé. Com seu traje de domingo faz seu caminho, agora não mais domingo de manhã, prefere as noites, mas ainda a pé, não mais levado pelas mãos da mãe, agora só.
Agora caminha só, fuma cigarros e bebe conhaque, sua mãe continua a querer levá-lo à missa, pelas mãos se fosse possível, reclama muito de seu gosto por cigarro e bebida, e de suas caminhadas noturnas pelos bares da cidade. O mundo o roubou de mim: ela deve pensar. Agora ele quer ser tomado pelo mundo, pertence aos balcões e gosta muito de dormir nos domingos pela manhã.
Sente-se bem ao cumprir seu ritual, não mais dominical, ao pisar na rua acende seu cigarro de filtro branco, caminha observando as coisas ao seu redor na tranqüilidade de seu caminho silencioso, anima-se ao chegar no centro e ver o frenesi circular de carros e pessoas, gosta de chegar ao bar quando ainda não há conhecidos e pedir a primeira cerveja no balcão, ao primeiro gole o primeiro trago do próximo cigarro. Sua roupa de domingo logo vai estar tomada pelo odor do cigarro e por respingos de bebidas quaisquer, logo vai estar tomada pelo suor do corpo a dançar, amassada por mãos a lhe apertar, talvez seu traje de domingo vá estar a escutar gemidos ao pé de uma cama qualquer.
segunda-feira, janeiro 16, 2006
andava a querer um qualquer
Andava a querer dizer sim a um qualquer.Não por maldade ou o que chamam de traição, mas por desejo de carne, não por falta de bem querer, o que ela quer é pelos de faces estranhas a passear por seu colo, bocas de hálitos estranhos a beijar seus seios, troncos a encaixar entre suas pernas, quer ouvir pedidos para que se vire de costas.
Cruzar esquinas de mãos dadas a seu bem continua sendo agradável, mas bom mesmo era quando lhe tirava pra dançar em plena praça pública e sem som de acordes qualquer, quando lhe sapecava um beijo surpresa no meio de caminhos, coisas que pouco lhe são ofertadas ultimamente, andava querendo aceitar convites para danças em praças e a pedir beijinhos a estranhos, quer ser chamada de minha garota, mas o que tem ouvido é um querida sem sal.
Por respeito seu bem não lhe passa a mão em publico, gostava era quando aquelas mãos ficavam a lhe passear entre as pernas por debaixo da mesa do bar, lembra que certa vez o garçom lhe presenteou com uma camisinha dado o jeito que se pegavam em pleno bar, agora anda a querer usar tais artifícios de proteção com o próprio garçom.
Pois não pode mais viver assim só com seu bem, quer dividir lençóis com outro alguém, que lhe de mais que um: oi meu bem, ou bom dia querida. Quer acordar com um pau duro a lhe provocar entre as pernas, quer um qualquer a lhe pegar por cantos de bares cheios, andava com vontade de sair só e tomar porres homéricos, de ficar a flertar e de dar pra um outro.
Andava pensando e se sentir bem, em ter prazer em retocar a maquilagem entre travestis e mulheres estranhas a falar de rostos bonitos que estão presentes no bar, não quer se preocupar tanto com coisas poucas, e muito menos em agradar um homem apenas, quer ser gentio com outros quaisquer, quer sentir gostos de bocas estranhas e cheiros de pescoços variados, andava cansada do mesmo perfume e de ser chamada de querida. Andava a preferir ouvir um gostosa ao pé do ouvido, andava a querer visitar camas alheias e ir embora sem se despedir, quer escolher cds em quartos distantes do seu, perguntar a estranhos sobre o que gosta de ouvir enquanto transa, andava meio cansada de seu bem e de seus gostos musicais atuais. Andava a querer novos sons, novos gemidos, novos pedidos.
Andava a querer experimentar outros cafés e outras cozinhas, outras vozes a sussurrar em seu ouvido e outras bocas a lhe morder os lábios, quer variar de corpos a pesar sobre o seu. O não quer mais é ouvir um meu bem sem sal. Quer passar o carnaval entre malandros cariocas de navalha no bolso ou beber cerveja com paulistas boêmios, andava a querer samba ou rock desde que com um qualquer que lhe minta o nome.
sábado, janeiro 14, 2006
banheiro verde e rosa
Pois talvez haja, em certo canto, tal feito, devia ganhar presentes quem inventou este objeto, ou melhor esse todo que é feito de verde e rosa, isso é coisa de morro de samba, tão cantado por ai, imagine se sabem que existe tal dama a se banhar em tal ambiente, ainda se fosse só pelas cores. Mas não! Tem toda uma formosura que fica a transitar por lá, ah, devia eu freqüentar tal lugar. Mas essa honra não tenho, quem me dera! Ainda mais em dias como os de hoje que faz um quente que nem sabia que podia.
Mas posso não, esse é um daqueles eventos que devia acontecer na vida de certas pessoas, devia é ser lei que todos tenham banheiros verde e rosa, e que pra quem não tem, devia haver convites formais para tal freqüência, devia sim. Mas como não há, ficamos assim a ouvir sambas e a tropeçar em calçadas cinzas, e o que consola é a companhia de um cigarrinho, na falta de tal dama e de seu banheiro verde e rosa, fica-se com um bom trago de LM e uma chuverada em banheiro bem comum, sem tais cores e tal presença.
O bar do Gerson não é mais o mesmo, mesmo! Acho que ele fechou, desistiu.. E agora? Onde vou comer os lanches, falar de coisas sérias e de filosofia, beber do conhaque e das cervejas? Onde vou ancorar meu porto seguro? Foi triste como se deu a notícia, sabe... Cansado de mim desci pra tomar uma cerveja e comer um tradicional com ovo (e me trocando pra ir, sedento, já salivava por gente, conversa e bar - além do lanche). Chego lá em baixo e tá tudo fechado, as luzes apagadas, o cadeado trancado - aí lembrei, veja só! (caramba...), lembrei que ele tinha me dito, na terça-feira: "Olha, acho que vou fechar o bar essa sexta..." Poxa, e eu não apareci lá na para tomar todas as derradeiras saideras, ficar enchendo o saco dele até altas horas da matina, dar um abração no cara, desejar toda a felicidade do mundo... e todas essas bobagens tão importantes! De minha parte, ingratidão, pois aquele bar me era muita coisa... Poxa!, lá levei meu irmão, minha mãe, para para beber, e conversar, e se embriagar...e pena não ter podido levar o Sr. Firmino para conhecer o Gerson, e os outros tantos amigos queridos.
E agora Elias? Que tristeza cara!, aguda, e já sem o tradicional chão pra me apoiar. Pois eis o fato: ali onde as coisas começaram - pelo menos pra mim -, ali, o que (me) era se acabou, se findou, foi-se, fechou... e se lamentar, agora, aqui, já não é opção: Choro em homenagem aos bons tempos do bar do Gerson, ao que um dia chamamos "nosso bar".
11:22 PM